TEORIAS DO CAOS - Opinião de José Manuel Ribeiro
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E se os jogadores de futebol se preocupassem realmente com aquilo que promovem?
O mais complexo nas duas garrafas de Coca Cola rejeitadas por Cristiano Ronaldo, enquanto aconselhava aguinha aos jovens, não é o ataque "inadmissível" aos sponsors da UEFA (foi a primeira vez que assisti a uma campanha espontânea de apoio a uma multinacional ou a uma tão vasta preocupação com os direitos comerciais da UEFA). Difícil é entender que Ronaldo não pareça ralar-se com as notícias de utilização de mão-de-obra infantil pela Nike, ou mesmo de mão-de-obra infantil forçada, no caso da etnia uigur, na China. Empresas como a concorrente Adidas usaram dezenas dos maiores atletas de sempre para se livrarem de escândalos bastante sérios, e pode dizer-se, a respeito dos alemães, que o fizeram com êxito.
Por outro lado, se o problema de Ronaldo é dar prioridade à alimentação regrada, em prejuízo dos Direitos Humanos, falta-lhe na lista de patrocinadores uma marca de filetes de peixe "com Omega-3", como David Beckham chegou a ter.
No capítulo dos patrocínios é difícil encontrar coerência, mesmo no caso de ativistas políticos e sociais tão empenhados como o insuspeito Muhammad Ali, que ficou conhecido por promover uma armadilha para baratas: "Mata sem veneno."
O apreço de Ronaldo pela água faria sucesso nos Estados Unidos, onde a Imprensa costuma empreender uma recolha regular, em jeito de denúncia, da "fast food" publicitada por figuras como Lebron James (MacDonalds e pastilha elástica) ou, outra vez, David Beckham, que deu a cara pelo Burger King, talvez convencido de que ganhara créditos com os filetes.
O golfista Vijai Singh aceitou uma parceria com o Stanford Financial Group apenas para descobrir um mês depois que o "parceiro" estava acusado de fraude e que tentara valer-se da sponsorização como escudo.
Em Portugal, teremos sempre o pequeno-almoço de Luís Figo com José Sócrates, para um patrocínio do Taguspark que, alegadamente, implicaria apoio político na candidatura às legislativas de 2009.
Mesmo Ronaldo, que não podemos acusar de negligenciar a imagem, aceitou em tempos representar um estranho aparelho japonês, parecido com uma hélice, que servia para fazer exercícios faciais e pôr os maxilares em forma. A água é um bom princípio, mas podemos dizer que é uma gota na longa caminhada do desporto para se redimir dos milhares de péssimos juízos que fez e continua a fazer.