PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
Corpo do artigo
Primeiro, o que todos desejamos: que o jogo contra o Estoril tenha sido o da redenção. Aquela partida transformadora de uma época: os jogadores, que começavam a duvidar de si próprios, ganham autoconfiança; o treinador vê finalmente os frutos do trabalho feito à semana; os dirigentes sentem que podem trabalhar com outra serenidade; e o povo vitoriano acredita. O resto vem por arrasto.
Os sinais, diga-se em abono da verdade, foram francamente animadores. A equipa, vinda de uma série menos positiva, perante um adversário direto, entra bem, joga bem, só por azar não marca e vê-se a perder 1-0 ao intervalo. Se isto não é a receita perfeita para o descalabro, então não sei o que é. E a verdade é que, contra todas as expectativas mais negativistas, o Vitória conseguiu dar a volta de forma convincente.
O que mudou, então? Desde logo, o facto de a equipa ter tido a personalidade e o caráter de se manter firme, mesmo perante as adversidades. Depois, tivemos alguns jogadores que estiveram particularmente bem. A começar pelos regressados de África, que vieram num excelente momento. Mumin foi aquele dos dias bons e Alfa Semedo mostrou o que pode dar à equipa. Trmal, esse, deu mais uma prova de que podemos estar tranquilos no departamento das redes.
Mas os maiores destaques vieram do meio campo para a frente. Pela primeira vez, Janvier jogou de início e esteve à altura do desafio. Já aqui tinha escrito que o francês não se podia dar ao luxo de desperdiçar oportunidades. Porque está na altura de demonstrar se quer ser uma eterna interessante promessa ou um jogador de top. É que estes, quando têm a oportunidade, arrasam.
Rochinha, por seu turno, confirma, jogo após jogo, que é um dos nossos melhores e que na I liga não há muitos como ele. O golaço da igualdade foi apenas mais uma página de bonita que escreveu no Vitória.
E, finalmente, mais um capítulo no estranho caso de Oscar Estupiñán. Mais dois golos e mais duas provas de que o seu percurso, desde que chegou ao Vitória, foi muito mal gerido. A qualidade que se entrevia, só demasiado tarde mereceu a verdadeira oportunidade para vir ao de cima. Lê-se na Comunicação Social que o Vitória quer renovar com ele. Oxalá me engane, mas temo que esta história termine como costumam terminar as renovações em último ano de contrato: sem final feliz.
E agora, para terminar, o que todos tememos, e que a equipa terá de desmentir. Que tenha sido apenas um jogo. Uma exceção, numa regra de cinzentismo. Que a verdadeira cara do Vitória seja a dos minutos que mediaram entre os nossos segundo e terceiros golos.
O que a equipa tem de entender é que os três pontos já lá vão. E que se em Vizela voltarmos ao mesmo, o balão se esvazia mais depressa do que o tempo que levou a encher. Está na hora de sermos consistentemente Vitória.