Mourinho sabe conquistar adeptos, mas precisa de reconquistar... os jogadores
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À entrada de Stamford Bridge sobressai a estátua Peter Osgood - ex-jogador do clube nas décadas de 1960/70 - e a mensagem que serve de legenda à homenagem que ali lhe é prestada: "O Chelsea tem vários heróis, mas apenas um rei." Uma frase orelhuda que José Mourinho vem desafiando desde 2004, ano do início de uma química perfeita com os adeptos, que não esmoreceu enquanto ele andou por outras paragens a colecionar títulos e polémicas.
Para quem viu no estádio londrino o jogo com o FC Porto, o despedimento não deixa de ser surpreendente, mesmo que a lógica dos resultados o tornasse mais ou menos aceitável. Não é o mesmo que dizer óbvio, porque esta saída tem esse lado irónico: as bancadas continuavam a dar sinais de devoção. Aliás, a única coisa que se ouviu dos adeptos nesse jogo com os dragões, além das palmas compassadas na música de aquecimento em Stamford Bridge, exigindo-lhes apenas que a dada altura soltem um "Chelsea" das gargantas, foi a banda sonora do costume: "José Mourinho, José Mourinho".
Hoje, dia de jogo com o Sunderland, é essa sensação de orfandade, que experimentam pela segunda vez, que os adeptos blues vão tentar driblar, talvez passando primeiro pela estátua de Osgood para lerem em voz alta a tal frase que lhes serve de hino paralelo.
Não há dúvidas de que Mourinho ainda sabe conquistar o coração dos adeptos. Mesmo em Madrid, sem ter sido unânime, deixou saudades. Agora, o desafio dele é outro: reencontrar a fórmula que lhe permita entrar no dos jogadores. Mourinho não perdeu qualidades; terá, quando muito, perdido o sentido de humor que complementava o personagem que cresceu de forma incontrolável até ficar num labirinto. Mourinho parece algo azedo. O segredo do sucesso da próxima escolha talvez seja esse: um sítio onde possa rir um bocadinho novamente.