Ricardo Fonseca e Duarte Santos colocam arbitragem portuguesa na elite
Um texto de opinião de Paulo Faria.
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Depois de um Campeonato do Mundo ganho pela seleção da Dinamarca e, verdade seja dita, uma justa vencedora, há um aspeto que queria destacar: o facto de termos tido uma dupla de árbitros portugueses no mundial. Este feito, por si só, seria razão mais que suficiente para que todos nos orgulhássemos, mas terem sido escolhidos para o jogo que atribui a medalha de bronze, entre a Alemanha e a França, foi para mim, e para todos, a certeza do grande reconhecimento da dupla de árbitros internacionais e olímpicos madeirenses Ricardo Fonseca e Duarte Santos. Foi o reconhecimento do seu valor e do enorme investimento pessoal que fizeram e certamente também da Associação de Andebol da Madeira e da Federação de Andebol de Portugal. De resto, Ricardo Fonseca agradeceu mesmo o apoio do Conselho de Arbitragem na preparação de um plano de treino especializado para a função de arbitro.
No atual momento, ser arbitro é uma atividade de risco, basta ver os programas televisivos a fazerem juízo do seu valor, do seu caráter e da sua idoneidade. Está praticamente legalizado o insulto aos árbitros em todos os campos, pavilhões, locais, em todos os escalões de todas as modalidades. Parece, inclusive, que uma mãe ou um pai que não insulta um árbitro não "sente" o jogo do seu filho.
Este último episódio de um suposto treinador a agredir um árbitro de andebol, ainda por cima reincidente, retrata um pouco a impunidade geral a que se assiste no desporto nacional. Este sujeito deveria receber uma punição exemplar, proibindo-o de entrar em qualquer recinto desportivo, mas também grave foram os comentários deploráveis da adepta na bancada a incentivar a agressão e a insultar quem tentou acalmar o referido agressor.
"Da mesma forma que há muitos jovens que querem ser como o Gilberto Duarte, Alfredo Quintana etc, há agora também, por consequência deste feito, mais jovens que querem ser como o Duarte Santos e Ricardo Fonseca"
Mas voltemos à importância do feito realizado por esta dupla, que ultrapassa em muito a nossa vaidade como portugueses e o jogo em si. Como sabemos, muitas vezes a formação de árbitros esbarra na desmotivação sentida por um jovem ao perceber a falta de formação e cultura desportiva de quem está nas bancadas a assistir e perceber a falta de respeito dessas pessoas para com quem está a iniciar uma carreira e, consequentemente, mais sujeito a erros. Só quem é árbitro saberá o quanto deve ser difícil decidir enveredar por esta carreira, mas também é verdade que da mesma forma que há muitos jovens que querem ser como o Gilberto Duarte, Alfredo Quintana etc., há agora também, por consequência deste feito, mais jovens que querem ser como o Duarte Santos e Ricardo Fonseca.
Espero e desejo que este enorme feito faça com que mais jovens desejem ser árbitros, mais jovens sonhem com a possibilidade de serem internacionais, mais jovens acreditem que o esforço valerá sempre a pena.
Eu posso dizer que tenho no meu currículo um cartão vermelho, num jogo para a Taça de Portugal entre o Marítimo e o Águas Santas, no Funchal, que originou a minha única suspensão de 15 dias. Como bom português que sou, achei e acho injusta, mas foi-me mostrado por uma dupla de árbitros que esteve na atribuição da medalha de Bronze na Dinamarca. Aquilo que até agora era cadastro passou a ser currículo.