Fazer balanços do campeonato pelos olhos de apenas três clubes (e dos vendedores de indignações) é sempre sabotar a realidade.
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Apesar da unanimidade a respeito dos méritos do FC Porto, a imagem pública deste campeonato acaba, como sempre, muito distorcida.
A primeira razão é que ela resulta da perspetiva inquinada de apenas três clubes. A segunda, também crónica, são as contabilidades da arbitragem. Se usarmos uma ferramenta ao alcance de todos, que é a soma das análises de mais de uma dezena de ex-árbitros (nos três jornais desportivos e em vários canais de TV), incluindo um estrangeiro, vemos que o resultado difere radicalmente das certezas absolutas de qualquer dos três grandes. A terceira é o alarmismo que faz de todo o incidente uma catástrofe ou uma vergonha.
Algum estudo, mesmo modesto, do futebol internacional dito civilizado demonstra com facilidade que a liga não é exceção em nada, dos casos criminais às claques; do comportamento dos treinadores às divisões entre clubes; das SAD manhosas às comissões de transferências. Na busca da objetividade plena, constatamos que houve muito de positivo no campeonato. As sequências de Gil Vicente, Marítimo, Estoril e Portimonense, em momentos diferentes da época e com medalha de ouro para o Gil; a confirmação de um treinador (Petit no Boavista) que tem sido subestimado; a saga europeia da formação do Braga, e muito bons jogos que ficam registados, a começar no Moreirense de João Henriques e passando pelo Santa Clara e pelo Vizela. Não existe um problema com a arbitragem? Existe, mas não será com os berros dos três grandes que vamos percebê-lo.
No meio de todo este ruído contínuo, o difícil é chegar àquela dúzia de casos que foram realmente anormais, e decifrá-los. Depois temos as doenças reais, que também não ganham em ser sempre discutidas a partir de FC Porto, Sporting e Benfica: o antijogo, as simulações e uma outra que me parece das mais graves e que, por não tocar aos grandes, vai passando despercebida. Equipas como Santa Clara e Portimonense vendem os melhores jogadores durante toda a época. A Liga quer ter um campeonato bar aberto?