Responsabilidade dos protestos também é da estrutura, que não defendeu Schmidt
A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Jamais fui capaz de assobiar algum dos nossos - os meus vizinhos de cadeira há 20 anos facilmente o comprovarão - e em dezenas de anos de militância benfiquista já me vi a passar por vários momentos muito piores do que aquele que agora vivemos. A responsabilidade dos protestos de sexta-feira - melhor seria que tivessem deixado o colossal coro de assobios para o final do jogo - também é da estrutura, que não defendeu Roger Schmidt à medida que ele foi sendo progressivamente atacado por todos os lados. Já o arremesso de objetos é a tal ponto inadmissível que não pode deixar de ser exemplarmente punido.
2 - Nas últimas 29 épocas o Benfica venceu oito campeonatos. Os responsáveis por seis desses títulos - Jorge Jesus, Rui Vitória e Bruno Lage - saíram “escorraçados” do clube. Roger Schmidt, basta atentar nas cenas dos últimos capítulos, para lá caminha a passos largos. Sobra Giovanni Trapattoni: a velha raposa inventou um pretexto e deu corda aos sapatos antes que o seu brilhante curriculum ficasse desnecessariamente manchado com uma saída “suja” da Luz. Há aqui um padrão sobre o qual urge refletir e atuar, sob pena de o Benfica se tornar num indesejado cemitério de treinadores campeões. Quem não sabe da importância que a estabilidade tem para o sucesso no futebol? Os nossos rivais já lá chegaram há algum tempo: Sérgio Conceição continuou depois de na segunda época ter perdido um campeonato no qual teve sete pontos de avanço; Rúben Amorim está de pedra e cal depois de ter classificado a equipa no quarto lugar da Liga 2022-23.
3 - Aprendi com os grandes empresários com quem trabalhei que o importante não é apontar culpados, muito menos bodes expiatórios, o importante é saber avaliar as situações e definir o caminho para correr atrás dos objetivos que ainda estão ao nosso alcance. Se o caminho é para ser feito com Roger Schmidt, teria sido preferível que Rui Costa o tivesse acompanhado na dura declaração que se seguiu ao injusto empate com o Farense. Além do mais, podia ter ajudado a suavizar o que Schmidt, revoltado, disse dos adeptos. Porque não basta uma família unida para ganhar títulos, mas nenhum título se consegue alcançar sem uma família unida à volta da equipa. E a coisa não está fácil.
4 - O Manchester United impediu quatro órgãos de comunicação de marcarem presença na antevisão de Erik ten Hag ao jogo com o Chelsea. A explicação foi cristalina como a água: “Estamos a tomar medidas, não por terem publicado artigos de que não gostamos, mas porque o fizeram sem nos contactarem primeiro para nos darem a oportunidade de comentar, contra argumentar e contextualizar.” Eles acreditam - e eu também - que aquele é um princípio basilar que não pode ser ignorado por quem produz as notícias. Pagaria para ver o Benfica fazer o mesmo em Portugal. Razões - de sobra! - não lhe faltam.