O FC Porto vive com 520 M€ de passivo pelo que a passadeira para menos juros por mais tempo é uma excelente solução
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Não se pode olhar para a maior operação de financiamento do desporto nacional sem lhe reconhecer o carácter e a importância que indiscutivelmente terá nas próximas décadas do FC Porto e, como tal, na competitividade do futebol português. Convocar um copo-meio-cheio-meio vazio para uma operação desta magnitude é assumidamente pouco para um acordo até 2049 com a banca norte-americana que, naturalmente, prende e liberta, como apogeu da respiração controlada. Qualquer acordo de renegociação da dívida por um período de 25 anos nunca poderá deixar de ser uma camisa de forças e um método para corrigir a postura.
Uma promessa eleitoral de vulto de André Villas-Boas concretiza-se com uma taxa de juro 5,62%/ano, claramente abaixo do que seria suposto, com carácter fixo para duas décadas e meia, sem dar como garantia o Estádio do Dragão ou o passe de qualquer jogador do plantel. A manutenção intacta destes activos, apostando nos 70% do que resta da exploração comercial do Dragão pela Ithaka para pagar juros e capital, é uma boa solução, sobretudo quando permite olhar de imediata para a conta corrente e para os salários, respirar em maior liquidez e maturar credibilidade. A previsibilidade que este acordo acrescenta não nos deve fazer descansar: liquidez requer cabeça quando nos três primeiros anos só se pagarão juros e não o capital. A possibilidade de maior investimento no crescimento da competitividade no plano desportivo é fundamental como aposta de futuro. Se não for agora, com bons resultados, a partir de 2027 será bem mais árduo. O FC Porto vive com 520 milhões de euros de passivo pelo que a passadeira para menos juros por mais tempo está lançada e é uma excelente solução de caminho. A dívida mata juros.
Na senda do “follow the money” entre 2024 e 2027, o FC Porto anunciou ontem um novo empréstimo obrigacionista com um valor global inicial até 30 milhões de euros e com taxa de juro fixa de 5,25%. Previsivelmente bem-sucedido, coloca a tónica nas finanças como forma de saneamento e não deixa margem sobre a correcção de trajectória que se pretende. Mas a dívida e o financiamento não entram na baliza. Há uma bola e três traves em campo e o que fica da última jornada frente ao rival da Luz ainda não permite um sono descansado a muitos adeptos. Com uma pausa competitiva de mais uma semana até ao jogo da Taça de Portugal frente ao Moreirense e com um jogo decisivo para a Liga Europa frente ao Anderlecht, o regresso ao Dragão só acontecerá no início de dezembro frente ao Casa Pia. Mais do que nunca, são os adeptos que podem fazer a diferença, mas é absolutamente vital que os jogadores sejam capazes de elevar o espírito de entreajuda em campo. Não sendo possível jogar logo a seguir à Luz, que estes quinze dias tenham sido vividos, pelos protagonistas, com tantas insónias como as que ainda assolam adeptos. Tudo com uma taxa fixa de esperança e solidez. E avidez de ganhar em qualquer campo.