SENADO - Uma opinião de José Eduardo Simões
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As fracas prestações das selecções de futebol e hóquei em patins constituíram enorme desilusão. Não foram competentes. Não atingiram os objectivos. Faltou ambição, sobraram receios e inibições. Foram perdulários e inconsistentes. Deixaram fugir os pássaros que tinham na mão. Sobretudo falharam em momentos capitais cometendo erros antigos, pecados que se pensava estarem erradicados. Pareceram selecções menores e desorientadas.
Fora períodos especiais e mesmo com jogadores excepcionais, os nossos melhores clubes e selecções falhavam nos momentos cruciais. Aqueles que distinguem os campeões dos restantes mortais. Havia sempre razões para os insucessos - arbitragem, lesões, menor capacidade física, resistência ou rapidez, o relvado ou recinto, falhas de concentração, tremedeiras injustificáveis perante os ditos papões, fantasmas do passado, estilo de jogo antiquado e previsível, pouca ambição. Esperar em vez de impor, mostrar receio perante adversários, síndrome de inferioridade. Ao rever esses tempos, aos grupos de enorme qualidade faltava algo para vencer nos momentos chave. Ultrapassar estes problemas demorou tempo porque exigiu mudança de atitudes e mentalidades. Mais trabalho e foco, maiores exigências competitivas. Preparação mental diferente. Capacidade de sofrimento e união para alcançar os resultados desejados. Conseguir inspirar temor nos adversários. Ter ambição, concentração e vontade colectiva de vencer. Mourinho foi o mestre precursor e impulsionador de uma abordagem mais atrevida e competente. Com resultados visíveis.
Ter jogadores nossos nos melhores campeonatos e alguns dos melhores artistas na nossa liga elevou os níveis de auto-confiança e mostrou que podemos ser tão bons como os melhores do mundo. Com o espírito certo que lhes foi sendo inculcado. Formamos jovens de inegável talento, atletas de elite que são campeões nos clubes por onde passam. É um hábito fundamental. Transportar esta forma de estar para as selcções foi o passo seguinte para o sucesso. Futebol, futsal, futebol de praia, hóquei em patins, são modalidades com resultados onde a mudança de mentalidades mais se fez/faz sentir, com a melhoria da organização de clubes e federações a ser determinante. A percepção que se instalou nas últimas duas ou três décadas é que se podia ganhar um campeonato europeu e mundial, tal como sucedeu. Por outro lado, não ir a uma dessas provas passou para o domínio do impensável e o apuramento nas fases de grupos os serviços mínimos a cumprir.
Foi por isso com incredulidade que os portugueses assistiram aos jogos com Irlanda e Sérvia. Um jogo pode correr menos bem, agora dois seguidos? Demonstraram falta de ambição, receio, capacidade, coesão, incapacidade para jogar futebol de qualidade e rigor competitivo. Contra a Sérvia e mais substituições houvesse entrava outro guarda-redes e mais defesas. Saltava à vista que ia acontecer o que sucedeu. À falta de intervenção divina, a Sérvia apenas aproveitou o que lhes oferecemos. No hóquei, para além de um seleccionador que fervia em pouca água, os vice-campeões em título preferiram entrar no facilitismo. Perder com a França (?), empatar com Itália... Jogos fracos, falhanços defensivos e ofensivos de principiantes, entregámos a disputa do título a outros. Não culpem o anti-jogo combinado de Espanha e França que lhes servia à perfeição ou o golo mal anulado a Ronaldo na Sérvia. Isso são desculpas esfarrapadas. Deviam ter, desde o início, arregaçado as mangas como sucedeu contra a Espanha - tarde de mais. No futebol e no hóquei, o demérito foi nosso e só espero que não estejamos a retroceder 40 ou 50 anos no tempo. Subir é difícil, mantermo-nos lá em cima custa muito esforço. Mas cair é fácil e a recuperação lenta.