PLANETA DO FUTEBOL - O radar de deteção de vários estilos de jogo do Sporting, a dúvida de saber "quem serve quem" no Benfica e o poder do Braga em secar o jogo.
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1 Duas equipas a querer jogar mantendo boa relação com a bola é o início de um bom jogo. João Mário faz circular melhor o jogo a meio-campo mas com Matheus Nunes esse corredor central ganhar mais jogo vertical.
Entre verticalizar ou circular, a opção de Amorim por João Mário tinha o "princípio da relação com a bola" como base para a opção: tinha de ser melhor equipa em posse frente a um Paços que monta a "tenda do meio-campo" em triângulos sucessivos (de posse e apoio).
Quase por ironia, tornou-se num jogo com excessivos choques (e faltas). A vontade enorme de ambas em ter a bola provocava reações demasiado impulsivas quando a perdiam (e sentiam que o adversário podia criar perigo com ela).
Ficando a ganhar, o Sporting ativou então o seu "radar defensivo em organização". É, por mais que respeite a bola a atacar, a base que o torna competitivo quando os jogos ameaçam tornar-se adversos e, então, subitamente como que lhes coloca uma "mordaça". O adversário quase que "paralisa" perante essa rápida mudança de "chip verde" porque não a via ao princípio. Ela, porém, esteve sempre lá. Está desde o primeiro jogo.
2 Vejo o Benfica a atacar, em 4x4x2 com dois extremos, mas com um, Everton, a jogar sempre em diagonais interiores e o outro, Rafa, a surgir preferencialmente no meio, nas costas dos dois pontas-de-lança, Darwin e Seferovic, que em vez de jogarem juntos, estão... juntos em campo, quase de perfil, no mesmo espaço central, sem combinar, e, vendo todos estes ataques e jogadores, pergunto-me: quem serve quem?
Ou seja, o movimento criativo benfiquista não define preferencialmente, no seu jogar, assistentes e finalizadores. Eles cruzam-se e... confundem-se. Jogada após jogada. Já nem é questão do meio-campo e do conceito de "equipa partida" que lhe retira zona coletiva de pensamento no meio-campo. É a questão básica de definir interligação de missões (passes e remates).
3 O Braga tem ganho jogos conquistando o resultado. Nos Açores, ganhou... segurando o resultado (o 0-1 marcado cedo numa bomba de Borja). São três pontos iguais em ambas as situações mas com "transfer mental" diferente. Contra um Sta. Clara que meteu muitas bolas na área, a organização defensiva bracarense soube baixar sem se deixar sufocar e respirou sem bola ou, até, atrás dela. Não foi uma vitória bonita, mas foi uma vitória que confirma a maturidade de grande que sabe jogar diferentes jogos (no mesmo jogo, se for necessário). Fechou-se taticamente e, ao mesmo tempo, "fechou o jogo". Continua no trilho para ser candidato no ultimo terço do campeonato.
Como fazer "campo pequeno"
Os sistemas de "defesa a 3" (montados pela equipa pequena contra a grande) dão a sensação de maior segurança defensiva por encher mais o espaço à frente da baliza contra dois pontas-de-lança fortes, mas o criar dessa "jaula de choques e marcações" só funciona com a cobertura em largura do jogo que nasce das faixas ou desde trás dos médios adversários.
O Moreirense, contra o Benfica, começou por sofrer para fazer essa basculação rápida em organização defensiva perante a mobilidade benfiquista, mas estabilizou quando fixou mais os laterais (ficando a "5") só os soltando quando a bola já saía de trás. Decisivo, nesta ideia sem bola o trabalho incansável de Fábio Pacheco sempre atrás dela. Um n.º 6 que, assim, raramente vê o jogo de frente. Tem é de rodar rápido para ir atrás do médio (Taarabt ou diagonais de Rafa) que rompia. E assim foi.
Vasco Seabra juntou muito as linhas (quase 5x4x1) e então encravou qualquer mobilidade encarnada, sem criatividade coletiva. Saiu pouco a jogar (tirando iniciativas de Filipe Soares, belo jogador) mas não desencaixou uma vez de qualquer movimento adversário. Um empate que mais do expressar uma ideia de jogo, traduz o anular de outra ideia jogo, a do adversário (sempre repetida).