"Quem com jogos atípicos mata, com jogos atípicos morre"
PASSE DE LETRA - Para o cronista Miguel Pedro, o Braga está outra vez com estofo de campeão. A derrota na Luz deu lugar à retoma.
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1 - Nas declarações após a derrota sofrida pelo Benfica contra o Portimonense, o então treinador benfiquista Rui Vitória utilizou o termo "atípico" para caracterizar o jogo: na verdade, o Benfica tinha perdido um jogo com dois autogolos, o que é, convenhamos, pouco usual acontecer.
Muitos escreveram que não tinha estofo de campeão, como se um campeão se definisse pelo resultado de um só jogo
Ora, se nos lembrarmos do jogo da jornada anterior e da pesada derrota que Braga sofreu no Estádio da Luz contra os lisboetas e encarnados, Abel utilizou também a figura da atipicidade para caracterizar o jogo e a razão da derrota. É caso para concluir que "quem com jogos atípicos mata, com jogos atípicos morre".
2 - O estudo das crises económicas é um assunto que motiva economistas, financeiros, jornalistas, etc. Muitos artigos e livros se escreveram a este propósito, concluindo quase sempre que os períodos de crise no sistema capitalista têm um desenvolvimento lento, estabilizam, existe retração da economia (recessão económica) e, depois, a retoma, com a reposição gradual das margens de lucro, quase sempre à custa do rendimento do trabalho.
São períodos relativamente lentos, que duram entre 5 a 15 anos, dependendo da causa (conjuntural, como a bolsistas, ou estrutural, como as de superprodução) da crise económica. No futebol, no entanto, as coisas são diferentes. Ler os jornais após a jornada que aconteceu a meio da semana que hoje termina é verdadeiramente extraordinário. Quem estava em crise há cinco ou seis dias está hoje em franca expansão. Quem estava em franca expansão e afirmação há cinco ou seis dias está hoje em crise profunda, em recessão.
As crises, no futebol, acontecem num período relativamente rápido (quase sempre 90 minutos) e a retoma também não demora a chegar (às vezes, uma semana basta). O Braga que perdeu por 6-2 no Estádio da Luz era, no dia a seguir à derrota, um clube em crise.
Muitos escreveram que não tinha estofo de campeão, como se um campeão se definisse pelo resultado de um só jogo. Um Braga que estava a iniciar uma crise, mas que, felizmente, retomou poucos dias depois, recuperando a sua condição de equipa em retoma, com uma vitória forasteira em Setúbal (carimbando a final para a final-four que se jogará na Cidade dos Arcebispos).
E contra o Marítimo (equipa cuja crise parece ser estrutural, aproximando-se da crise económica...), com uma exibição segura e equilibrada, o Braga consolidou a retoma, repôs a sua "margem de lucro" e está hoje, outra vez, com o estofo de campeão que para alguns parecia ter desaparecido na jornada anterior.
Já com o Benfica, que saiu do jogo contra o Braga como um candidato mais que provável, encontra-se - dizem alguns - numa profunda crise. Após a demissão do CEO da equipa de futebol, vamos ver como reagem as "bolsas de valores" da jornada deste fim de semana...