Que em 2020 estes valores se fortaleçam pelo andebol
Pedro Sequeira, vice-presidente da Federação de Andebol de Portugal, membro da comissão de métodos da Federação Europeia de Andebol, presidente da Confederação de Treinadores de Portugal e professor coordenador de Ciências do Desporto em Rio Maior, opina em O JOGO sobre a atualidade desportiva
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Este fim de semana que passou tive a possibilidade de viver e participar numa experiência fantástica no Andebol. Estive presente enquanto pai no Torneio de Andebol de Iniciados Masculinos que o CISTER de Alcobaça (em conjunto com os pais) organizou. Na 6ª feira coube-me a tarefa de acompanhar o autocarro que foi buscar as equipas do Sporting e Benfica a Lisboa. Primeira paragem foi em Alvalade. Logo aí achei simpático os jogadores, de forma natural, cumprimentarem-me a mim e ao motorista, mesmo não nos conhecendo. Os pais presentes, serenamente, despediram-se dos filhos, certamente já com saudades. Seguimos para o pavilhão da Luz onde a equipa do Benfica nos aguardava. Mais uma vez, os jogadores tiveram exatamente o mesmo comportamento que os do Sporting, cumprimentando todos os que estavam com autocarro (jogadores, treinador e dirigente do Sporting incluídos). Foram para trás do autocarro para junto dos colegas do Sporting e, a partir daquele momento, não dava para perceber que eram duas equipas, parecia que pertenciam à mesma! E foi assim durante toda a viagem! À frente, sucedeu o mesmo com treinadores e dirigentes de ambas as equipas a conversarem até chegarmos a Alcobaça. Em Alcobaça já se encontrava o ABC e o CISTER e a cordialidade foi alargada a estas equipas. Durante todo o torneio (jogos, refeições, passeios, alojamento) as equipas estiveram sempre juntas e que as visse de fora, só percebia que eram 4 equipas por causa da diferença de cores dos fatos de treino e dos equipamentos.
Durante os jogos, na bancada, a imagem foi igual. Pais das 4 equipas (destaco o enorme número de pais do ABC que acompanharam os filhos) estiveram sentados lado a lado sem que se percebesse quem era quem (só quando puxavam pelos seus filhos, percebia-se a origem). Foi assim durante todos os jogos. Destacaria, talvez, na final do Torneio, quando o jogo terminou, foi visível (e audível!) os pais do ABC (venceu o torneio, mas para o caso, não é relevante) a aplaudirem a equipa do Benfica da mesma forma que tinham feito aos seus filhos. Na entrega dos prémios foi igual, como todos a aplaudirem todos.
Durante os jogos, todas as equipas se empenharam, ninguém queria perder. Mas mesmo nos jogos com maior rivalidade (Sporting x Benfica, ou estas duas com o ABC) a intensidade na disputa de cada bola aumentou mas o respeito esteve sempre presente.
O único momento que não testemunhei (mas vi as fotografias) foi no sábado à tarde, durante o passeio até ao Mosteiro de Alcobaça, as equipas do CISTER e do ABC tiveram de regressar mais cedo (jogavam primeiro) enquanto as equipas do Benfica e Sporting ficaram dentro do mosteiro sentados a descansar, todos juntos. Lado a lado!
Sei que há muitos mais exemplos e histórias semelhantes a estas que eu testemunhei. Mas é importante partilharmos o que bom tem o Andebol (e o desporto no geral). Jogadores, Treinadores, Dirigentes e Pais são uma peça fundamental no desenvolvimento do Andebol mas, mais importante ainda, é perceber que quando Treinadores, Dirigentes e Pais transmitem valores para além do desporto, que os jogadores/filhos assimilam tudo sem problemas. Acredito que no final, alguns destes jogadores poderão vir a ser atletas de topo, mas tenho a certeza que todos estão no caminho certo para serem cidadãos exemplares!
Que em 2020 estes valores se fortaleçam pelo andebol e pelo desporto em geral. Todos podemos contribuir para isso.
Boas entradas e um excelente 2020!