A JOGAR FORA - Uma opinião de Jaime Cancella de Abreu
Corpo do artigo
1 - Doze jogos, 10 vitórias, 2 empates, 35 golos marcados, 12 sofridos, vitória no grupo à frente do PSG e da Juventus, segunda época seguida nas oito melhores equipas da mais importante competição de clubes do mundo, 72 milhões de euros arrecadados, subida de sete posições no ranking da UEFA.
Aqui chegados, com toda esta competência, com todo este mérito, com todo este brilho, além de desfrutar jogo a jogo, porque não sonhar jogo a jogo?
Para a Gazzetta dello Sport, "pode estar na Luz a surpresa da Champions"; o El País acha que o Benfica "desafia a maldição de Guttmann"; o Globoesporte.com considerou que "uma equipa com apenas uma derrota em 42 jogos e invicta na Champions não pode ser colocada de parte"; finalmente, a BBC Sport defendeu que "a jogar assim, o Benfica pode sonhar". Aqui chegados, com toda esta competência, com todo este mérito, com todo este brilho, além de desfrutar jogo a jogo, porque não sonhar jogo a jogo?
2 - Li esta semana que o Tribunal da Relação do Porto confirmou a condenação aplicada em primeira instância ao FC Porto por se ter apropriado de 60 segredos de negócio do Benfica. Senti-me - a palavra certa é esta - vingado. E pergunto: como podemos ser obrigados a partilhar um qualquer projeto - centralização de direitos, de bilhética ou lá o que for - com quem recorre a todos os meios, incluindo os mais ilícitos, para nos conseguir vencer, para nos tentar destruir, para nos ter sempre na linha de mira porque de outra forma não vai lá? Não se conhece uma penalização, não se ouviu uma advertência ou sequer uma simples palavra da Liga e da FPF sobre uma matéria que é da maior relevância para a sanidade das competições. Quem não se lembra, por exemplo, da McLaren ter perdido em 2017 o Mundial de F1 por espionagem à Ferrari?
3 - É possível um restrito grupo de "notáveis" benfiquistas sentir necessidade de realizar e dar disso conhecimento público, numa altura tão sensível da época desportiva, uma reflexão sobre o que quer que seja relacionado com o clube? É possível essa reflexão contar com a participação de um vice-presidente do clube? É possível a Liga fazer-se representar por um alto quadro a fim de prestar privilegiados esclarecimentos sobre um projeto de centralização ainda no segredo dos presidentes? Sim, acredite, tudo isto é possível - e é até pior: aconteceu!
4 - Que bonito foi o gesto de Rafa: não sendo possível dividir o prémio de "Player of the Match" com o Brugge ao meio - e bem o mereciam os dois -, entregou-o, discreta e humildemente, a Gonçalo Ramos. É com gestos como este, é com um espírito de grupo assim que mais probabilidades teremos de dar razão à atrevida resposta do jovem João Neves quando inquirido sobre o próximo adversário do clube na Champions: "Seja quem for, tem azar de calhar com o Benfica."