SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões.
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Depois da participação no Crystal Palace, uns dos históricos britânicos que não conseguiu acompanhar a pedalada dos aumentos de capital e dos investimentos em jogadores dos grandes de Liverpool, Manchester e Londres (mas está a fazer uma boa campanha na principal liga inglesa, Textor avançou para aquisições maioritárias no outrora grande Botafogo do Rio de Janeiro (retornado esta época à 1ª divisão brasileira) e nos belgas do Molebeek, que sucedeu a partir do zero do principal clube dessa cidade e já conseguiu subir à 2ª divisão daquele país.
A estratégia de Textor é clara: adquirir clubes com historial e potencial adormecido, com muito para crescer, que estejam baratos, falidos ou em dificuldades, os quais, com investimentos bem estruturados, verão o seu valor de mercado crescer e multiplicar-se dentro de alguns anos.
Relembre-se o que sucedeu ao mediano Chelsea após a sua aquisição por Abramovich, e nos valores que correm para a possível transacção da sua posse devido aos efeitos colaterais da invasão da Ucrânia pelo Império de Putin, e podemos ter uma perspectiva do que se passa na cabeça de Textor. Os londrinos valem hoje 20 vezes mais do que quando Abramovich o adquiriu, estando à venda por 2,3 mil milhões de libras, e quem comprar sabe que o principal credor do clube é o seu actual dono (2 mil milhões de libras em empréstimos pessoais para os investimentos, em jogadores nomeadamente). Em termos desportivos, foram 19 anos de inúmeros sucessos que colocaram o Chelsea como um dos maiores clubes do Mundo, uma diferença abissal à era anterior a 2003. Ao contrário de outros clubes ou marcas (como City ou Red Bull) e que se saiba, Abramovich não apostou em aquisições noutros países e continentes, concentrando os seus esforços na organização, infraestruturas (em particular o novo estádio), jogadores e retorno financeiro e desportivo dos londrinos.
Textor parece (a sua ligação ao futebol está a começar) querer apostar num modelo City/Red Bull, avançando para investimentos iniciais em jogadores que permitam aos clubes alcançar classificações mais elevadas que permitam a rápida valorização do investimento (o clube), enquanto, em simultâneo, cria estruturas e modelos com economia de escala em clubes de vários países e níveis diversos onde possa testar dezenas, depois centenas e milhares de atletas com potencial, com a formação e os jovens a crescer e circular entre eles e em campeonatos mais e menos competitivos e diferente grau de dificuldade e formas de jogar. O que interessará, como destino final, é o Reino Unido, seguido de Espanha, França, Alemanha e Itális (os Big Five). É aí que está o dinheiro graúdo, as grandes transferências, os maiores contratos publicitários, os estratosféricos direitos de transmissão televisiva, as audiências e os ambientes de estádio mais vibrantes. Como corolário o "navio almirante" da sua esquadra será o Crystal Palace, para onde irão os melhores dos melhores jogadores adquiridos (ou já de clubes seus) em mercados primários como o brasileiro, depois de evoluir, numa peneira cada vez mais fina, noutros campeonatos europeus "intermédios".
A estratégia parece bem delineada e não exigirá, nesta primeira fase, os investimentos massivos de outros como Chelsea, United, City ou Liverpool, sobretudo se Textor continuar a olhar, como penso que está a fazer, para outros clubes de campeonatos europeus que constituam boas oportunidades. Entre nós, o divórcio antes do casamento com um Benfica à deriva leva-o a sopesar as alternativas Porto, Sporting, Braga ou Guimarães. Situações financeiras, passivos, activos, abertura por parte dos dirigentes e adeptos (para não repetir a desfeita sofrida na Luz), estádios, centros de treino, marketing, comercialização de produtos e contratos, potencial de valorização vão ser vistos à lupa. Qual será o feliz contemplado?