APITADELAS - Um artigo de opinião de Jorge Coroado.
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Será cosmética? Terça-feira, a FPF, em comunicado de cinco parágrafos, surpreendeu expondo abertura para mudança no atual status organizativo da arbitragem do futebol profissional cá no burgo.
Trata-se, certamente, de medida pensada e maturada, assente em natural constatação do decrépito estado do setor em Portugal e não apenas mero acolhimento do muito que se vê e diz sobre o mesmo.
De facto, o aviso em apreço, apesar do primeiro parágrafo carrear elogio, qual "nobreza obrigatória", ao atual Conselho de Arbitragem, o restante do texto encerra óbvia e percetível crítica ao setor, no que se pode considerar salutar pedrada no charco. Mas, será? Aguardemos.
Promover a mudança por promover, não é algo que possamos estranhar. A vida ensina-nos continuamente haver metamorfoses extraordinárias capazes de apenas mudarem de moscas, perseguindo a mesma "matéria". Presuntivamente, a FPF, ao sugerir experienciação de modelo idêntico ao exercitado além Mancha, parece acreditar nas ancestrais técnicas de venda, que ensinam o embrulho fazer muito pelo produto, porém olvida questão essencial: os fracos atributos do atual quadro de topo pouco ou nada se devem ao setor viver sob sua égide. Em concreto, o problema não está no envoltório, ele afirma-se inquestionavelmente na falta de qualidade da matéria-prima mas, também, de quem (CA) a manuseia, i.e., a dirige, formata e ensina. Outrossim, se o propósito é dar guarida a alguns ex-árbitros, conhecidos girinos, amigalhaços de dirigentes de topo, hoje capazes de uma ideia, amanhã de outra, cujas tendências são conhecidas e há muito, em busca de ganha-pão, preconizam entidade externa na gestão da classe, então é mesmo cosmética!
Amiguismos
Na semana anterior, longe de saber do comunicado da FPF, aludi à pequena/enorme diferença existente entre o que se passa em Inglaterra e o exercitado por cá em matéria de gestão da arbitragem, nomeadamente quanto a níveis de exigência relativamente a rigor e responsabilidade perante erros graves e inaceitáveis, dualidade de critérios e má aplicação das regras. Ora, tal como o diretor adjunto deste jornal escreveu na quarta-feira, o princípio gerador de confiança nas estruturas, nomeadamente da arbitragem, vigentes na velha Albion, deve-se, reitera-se, ao rigor e imposição de competência, requisitos exequíveis apenas quando amiguismos estão ou são arredados da gestão.
Além de intenções
FPF e LPFP se, além de intenções e palavras, quiserem efetivamente exercer mister de responsáveis estruturais pelo setor da arbitragem e promoverem mecanismos de eficiência e rigor, possuem ao seu alcance meios suficientes para se inteirarem de pormenores que, paulatinamente têm conduzido à degradação do setor, principalmente ao nível da direção da classe e da incapacidade que aquela revela para exercer autoridade, exigir rigor, impor cumprimento de normas, regulamentos e aplicação das regras. É inexequível manter disciplina em qualquer grupo, concedendo privilégios, dando rédea solta ao comportamento, vontade a atitude do personagem que, tido por estrela, deveria ser exemplo.