Primeira fase do Euro: do domínio do duplo-pivô e os criativos "disfarçados"
PLANETA DO EUROPEU - A análise detalhada de Luís Freitas Lobo.
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1 - O verdadeiro Euro começa nos oitavos. Sem margem de erro a cada jogo.
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Não esperava revoluções na primeira fase, em termos táticos ou individuais, mas o facto de nas 16 apuradas apenas quatro seleções jogarem em sistemas de defesas a 3 (Alemanha, Bélgica, Suíça e Holanda) diz como foi excessivo detetar nessas estruturas a referência indiscutível neste momento tático do futebol europeu.
A qualidade do processo defensivo continua a ser a base do equilíbrio competitivo duma equipa que tem de assumir o meio-campo como o centro do seu jogo (para saber pressionar, sem bola, e saber assumir o jogo, com ela). As três exibições de Portugal, a evolução das variantes do sistema, do 4x2x3x1 com um médio-centro ofensivo (Bruno Fernandes) para um 4x3x3 com triângulo invertido em "1x2" (com Danilo trinco e dois interiores de pressão e saída, Moutinho e Renato Sanches) dizem taticamente tudo sobre a importância desse sector para poder perceber e reagir ao jogo.
2 - Só uma equipa joga num claro 4x4x2. A tradicional Suécia, cristalizada neste modelo há décadas, com jogo direto e diagonais dos alas (onde voltou a emergir Forsberg). Um sistema com duplo-pivô (Olsson-Ekdal) que também é assumido em sistemas diferentes (4x2x3x1). Na Dinamarca (Delaney-Hoejbjerg), República Checa (Soucek-Holes), Croácia (Brozovic-Kovacic ou Modric) e Inglaterra (Rice-Phillips), para além de, em princípios de jogo/movimentações diferentes, nos sistemas a 3 onde essa dupla assume todo o meio-campo, casos da Holanda (De Roon-De Jong), Alemanha (Kroos-Gundogan), Suíça (Xhaka e Freuler) e, num modelo diferente, Bélgica (Tielemans-Dendonker ou Witsel).
3 - Não emergem criativos puros mas nas variantes de triângulo invertido, um desses ditos n.º 8 tem esses contornos dentro dele. É o caso de Pedri (Espanha) com criatividade de... passe. E há ainda Mount (Inglaterra, que também lançou Grealish), com criatividade de... jogo, De Bruyne (Bélgica) quando solto na dupla que apoia Lukaku, possante n.º 9, Wijnaldum (Holanda), que avançou no terreno e joga (em 3x4x1x2) à frente do duplo-pivô no apoio à dupla de ataque.
O libertar de um médio é, assim, a chave para fazer reaparecer o criativo. Penso nisso vendo Modric, que depois de preso no duplo-pivô dos croatas, soltou-se para jogar à frente dele e fez o que nenhum 10 tinha feito até então: criar jogadas e marcar. Nesse contexto, três jogadores que podiam criar mais nessa vertente são Ramsey (Gales), Sabitzer (Áustria) e Malinovsky (Ucrânia). Nesse espaço, Darida (Rep. Checa) é o mais temporizador e os desígnios além-futebol retiraram-nos uma dessas ultimas espécies mais puras, Eriksen.
Tática:
- Das 16 seleções nos oitavos só quatro jogam preferencialmente em sistemas a 3;
- O domínio do duplo-pivô ou dos dois interiores.
Técnica:
- Os criativos alemães (Gnabry-Sané-Havertz) sem espaço no sistema alemão;
- Bernardo Silva, o 10 escondido.