PLANETA DO FUTEBOL - Análise e opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Cada vez mais, a forma como uma equipa ataca está, mais do que da ação dos avançados, dependente do comportamento coletivo dos médios quando a equipa não tem... a bola.
Tudo nesta frase pode parecer estranho, mas se descodificarmos bem o jogo, facilmente percebemos a importância desse comportamento (mais ou menos subido em termos de setor, mais ou menos pressionante, em ternos de atitude) para a criação de lances de perigo (apanhando a equipa adversária desordenada) no futebol atual. O jogo do FC Porto em Milão (como noutros em que adota a mesma ação) explicam isso.
Neste prisma, a forma como se impôs de início partiu de um principio de personalidade tática de uma posição que sobe no terreno e pisa forte mais à frente, em vez de ficar atrás, à espera que os adversários (e suas ameaças) cheguem. O centro desta agressividade de jogo está, naturalmente, onde as coisas táticas mais importantes acontecem: o meio-campo.
2 - A equipa não tem (não quer) um n.º 6 de raiz no terreno. Quer, ao invés, naquela "casa tática" (entenda-se espaço central à frente da defesa) dois elementos com visão de pivot para ficar (referencia de equilíbrio defensivo e saída de bola) ou adiantar-se. É neste segundo ponto que deteto o tal factor de personalidade agressiva, feito habitualmente por Uribe, feito em Milão (sem Uribe) por Grujic.
A chave está em adiantarem-se para pressionar e condicionar a saída em construção adversária e (ativando a contra-transição) ganhar lances e bolas em zonas subidas, que logo colocam os avançados perto da área adversária com os defesas adversários desequilibrados porque anda têm o chip na transição defesa-ataque (por isso, chamar a esta ação de roubo de bola subido de contra-transição).
Como atacar depende mais dos médios do que dos avançados
Foi assim que o FC Porto fez o golo: ação pressionante de Grujic (roubo de bola a meio do meio-campo adversário sobre o pivot do Milan) e rápida entrega a Luis Díaz que, apanhando a defesa italiana desposicionada, marcou. Nesses momentos, o outro n.º 8 passa a ser um... n.º 6, que garante cobertura e, se a bola voltar, capacidade de a fazer circular por trás (algo que Vitinha ou Sérgio Oliveira fazem muito bem).
3 - Um factor que me tem provocado impacto tático: a capacidade de Vitinha jogar como médio de condução e criação em 4x4x2. Pelos traços mais evidentes (técnicos e físicos) do seu jogo, via-o a render mais num 4x3x3 como interior nº 8 e com dificuldade para se impor no meio-campo a dois, preferencialmente estruturado na origem por Conceição (independente das compensações por dentro, sempre feitas por Otávio). Errado. A qualidade de Vitinha em ler o jogo em antecipação a nível de ocupação dos espaços faz a diferença nessa sua resistência táctico-física de qualidade para se exprimir em qualquer sistema.
O nº9 falso ou verdadeiro
Primeiro, com a baliza em cima, rematou ao poste. Depois, isolado, o guarda-redes defendeu. Por fim, rematou de fora da área e a bola... entrou. O festejo foi igual aos costume, apontando dedo à cabeça, mas a forma como reagiu antes aos golos falhados, mostrou como a mente de Paulinho estava uma metralhadora de ansiedade. Não a que cantava Nat King Cole "ansiedade de tenerte em mis brazos, mussitando palavras de amor", mas sim a do ponta-de-lança por ter o golo consigo.
Paulinho, Pote e Sarabia: descubram o goleador falso e o verdadeiro
Não adianta dizer-lhe que, no seu caso, mesmo sem marcar jogava sempre bem e isso nem era o mais importante sobretudo, também, devido à forma de como a equipa onde está joga, que pede mais um n.º 9 de apoios aos segundos avançados interiores do que só um finalizador puro. Para um ponta-de-lança, o golo é sempre um bem motivacional de primeira necessidade mas para este modelo de jogo do Sporting de Amorim não é. Por isso não me espantaria voltar a ver Sarabia surgir como falso 9 num jogo próximo, saindo do papel/posição de segundo avançado. Seja como for, com Paulinho (9 real) ou Sarabia (9 falso), o goleador, para quem todos olham quando é preciso resolver o jogo, será sempre outro: Pedro Gonçalves.
Moral da história sobre o homem-golo: não existe (moralidade goleadora é relativa).