PLANETA DO FUTEBOL - A crónica de Luís Freitas Lobo.
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1- Uma coisa é mera rotatividade de jogadores. Outra coisa é a rotatividade cruzada com alteração do sistema tático habitual. Outra ainda é fazê-lo em cima ainda dum plano estratégico de jogo que muda substancialmente a forma de jogar. E, por fim, outra coisa ainda (e todas vão acrescentando umas às outras) é essa rotatividade traduzir-se, na prática, em jogar com uma... equipa diferente do habitual, sem os melhores jogadores em posições (defensivas e ofensivas) decisivas.
Benfica perdeu na Luz com o Leipzig em 90 minutos em que a distância esteve sempre ao nível do jogo jogado
Se imaginarmos que todo este plano é feito contra um adversário muito forte (do topo da Bundesliga) no cenário da Champions, as probabilidades de as coisas correrem mal (entenda-se o confronto tático-técnico no jogo) são muito maiores do que as... possibilidades de as coisas correrem bem. Assim, muito naturalmente, o Benfica perdeu na Luz com o Leipzig em 90 minutos em que, mais do que o resultado final (um tangencial 1-2), a distância esteve sempre ao nível do jogo jogado.
2- Esta forma de abordar uma fase de grupos da Champions tocou a falta de noção competitiva exigível (e obrigatória para um Benfica que necessita de se regenerar em termos de prestígio na competição e aponta a objetivos altos em termos europeus). Não encontro lógica para Lage ter tido esta opção no meio de um ciclo de jogos em que, claramente, este era o mais exigente e importante/difícil, a todos os níveis.
O problema não está no valor potencial dos jogadores. Tomás Tavares jogou bem a lateral-direito (e também a defesa-direito), mas não tem o peso de André Almeida, assim como colocar Jota naquela posição suscitava desde logo a inevitável recordação/comparação com o impacto de João Félix na época passada. No fundo de cada arco-íris do Seixal não existe sempre um pote de ouro pronto a ser aberto, sem antes se perceber a melhor forma de o utilizar.
O conceito de plantel é diferente do conceito de onze e necessita sempre, na cabeça do treinador, duma distinção clara
3- O conceito de plantel é diferente do conceito de onze e necessita sempre, na cabeça do treinador, duma distinção clara, mesmo que depois diga para fora coisas em que não acredita, mas que são necessárias para mobilizar ambos da mesma forma. Ou seja, mesmo que isso só deva ficar na cabeça do treinador, há jogadores de plantel e há jogadores de onze. Um jogo da Champions no contexto de aposta do atual futebol benfiquista é para jogadores do onze. Sentiu-se a reação quando entraram Rafa e Seferovic (embora, para um deles entrar, tenha saído Pizzi).
Lage terá feito esta aposta conscientemente e não por impulso deslumbrado das apostas da formação que nunca falham. Isso pode tornar, paradoxalmente, o problema menos grave e a forma de o confirmar é nos próximos jogos da Champions. Em vez do plantel-arco-íris, ver o onze-base a jogar.
As primeiras jornadas podem criar ilusões perigosas
O perigo das ilusões
Sei que as primeiras jornadas podem criar ilusões perigosas. Podem, no lado negativo, levar a decisões precipitadas ou, no lado positivo, provocar deslumbramentos. Está na inteligência das estruturas dos clubes evitar uma coisa e outra. Porque a época é longa.
Nestes casos, tenho mais tendência a olhar para, numa situação ou noutra, às equipas que já levam um treinador de segunda época. Nesses casos, já existe uma referência/padrão de comportamento a seguir para melhor avaliar o novo presente sem ilusões.
Nesse sentido, estas primeiras cinco jornadas confirmam a solidez do plano de João Henriques no Santa Clara (ganhando ou perdendo jogos), sobretudo sabendo o difícil que é (nas condições) o trabalho nos Açores. O sucesso do Famalicão é do onze mas começa num suporte de projeto de investimento financeiro/desportivo (de base sub-24) de clube. O jogo das ilusões não se aplica aqui, portanto, no plano cru doutros locais. As bases são totalmente diferentes (beduínas ou não, veremos). A diferença entre uma boa equipa e um grande clube é enorme. Sobretudo para o futuro.