PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
Corpo do artigo
1 Do tempo emocional de onde venho, estes jogos de seleções eram os grandes momentos do futebol internacional sobretudo com o Mundial no horizonte.
É impossível hoje sentir o mesmo. Os jogos entre as seleções (que nas desintegrações e/ou refundações de tantas nações cresceram como cogumelos futebolísticos pouco competitivos) vulgarizaram-se.
O nível do futebol irlandês desceu muito mas se há atmosfera que faz, num ápice, voltar esse tempo (mesmo sem os craques do passado) é o das bancadas repletas de Dublin, multidão e cânticos.
Mais do que com as forças (poucas) do presente, os jogadores irlandeses jogam com a alma (muita) dos seus antepassados. E tornam o jogo um combate.
Desde o aquecimento, porém, as câmaras, das TV e ecrãs dos telemóveis, estavam fixados noutro ponto, em Ronaldo. O futebol está hoje numa galáxia diferente, com o jogador super-herói ou "pop-star", mas isto era uma paisagem de batalha com aura de outros tempos.
2 Em poucos minutos de jogo percebeu-se que seria difícil à seleção portuguesa colocar a bola no chão e expressar a sua cultura de posse. A Irlanda foi buscar as raízes do seu estilo britânico e amassou-nos.
Não controla o jogo, mas controla o... estilo de jogo. E, desta forma, torna-o inconfortável para Portugal numa sucessão de lances divididos, segundas bolas, pressão, encurtamentos e um nível de agressividade sempre muito superior ao jogo português que se tentava proteger. Em nenhum momento Portugal conseguiu levar o jogo para outro estilo (o seu) e assim aceitou sofrer, tendo de jogar muitas vezes demasiado recuado.
Sem criatividade, mas com combatividade, a Irlanda tanto mete o seu defesa-central (Duffy) a cortar na sua área como logo depois surge desde trás na área portuguesa a tentar o golo em cima dos nossos centrais. Um central "box-to-box" que confundia os jogadores portugueses, arrastando toda a equipa para um sentimento de medo do jogo (até quase fugir dele, no plano da disputa da agressividade)
3 É impossível jogar dois jogos ao mesmo tempo, mas é inevitável pensar neles ao mesmo tempo quando existe uma relação tão direta de resultados. A partir de certa altura, a seleção portuguesa jogou claramente com o empate (a metralhadora do jogo decisivo com a Sérvia) e refugiou-se nele. Não se expôs aos riscos de subir o bloco, manteve sempre a defesa a quatro completa e, não conseguindo nunca jogar o seu jogo, fez dos 90 minutos um exercício de resistência tática à agressividade irlandesa. O "deficit" técnico desta geração irlandesa impediu que esses lances fossem para além do choque e da maior agressividade. Por isso, o nulo num jogo em que o nosso estilo nunca entrou em campo. É essa incapacidade que, frente a um adversário tão combativo como rudimentar, quase me fazia viajar para aquele passado em que nos encolhíamos sempre frente a estes adversários com mais lesões nos dentes do que nas pernas. Valeu o esconderijo do zero-zero.
Encontro entre jogo e golo
A imagem provocou-me impacto (e não foi em nenhum jogo, foi mesmo numa paragem de um treino). Sucedeu enquanto os jogadores polacos se preparavam, pachorrentamente, à chuva, para defrontar Andorra (um dos tais "confrontos-cogumelo" internacionais deste tempo descaracterizado) e Lewandowski entrava no relvado de Girona. Foi então que surgiu alguém, protegido por um guarda-chuva, para o saudar. Era Guardiola, que aproveitara para ir uns dias a Espanha nesta paragem e não resistiu a ir ver a seleção polaca que estava perto. Ficaram a falar alguns minutos.
Especulou-se que foi do dia em que o polaco marcara cinco golos ao Wolfsburgo em nove minutos quando Pep era treinador do Bayern. Talvez, porque se há algo que continua a parecer ser a peça que falta para completar o puzzle do jogo de "posse teia-de-aranha" de Guardiola, é um n.º 9 assim, último elo entre o jogo e o golo.
É verdade que nem com ele ganhou a Champions em Munique (na hora da verdade foi ferido pelo contra-ataque de equipas menos bonitas), mas numa semana de seleções que nos confundem tanto as referências futebolísticas com que crescemos, ver este encontro ("match perfeito" goleador-jogo,) faz tudo, subitamente, voltar a fazer sentido. Hoje, dois dias depois, Andorra entrou em campo e...