É tempo de os nossos dirigentes terem ambição, de seguirem os bons exemplos e eles estão mesmo aqui ao lado
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A frase é de Fernando Pessoa, diz muito sobre as várias dimensões que temos, mas também se ajusta ao futebol português. Somos do tamanho das nossas ambições. Portugal compara bem com Espanha na produção de talentos para o futebol. Seja a nível de jogadores, seja de treinadores ou mesmo de scouting. Todavia, no dirigismo predomina um conformismo que contrasta com a ambição que encontramos do outro lado da fronteira. Temos como exemplo próximo o jogo de final da Taça, no próximo domingo, no Estádio Nacional, com capacidade apenas para 37.500 espectadores. Cada equipa finalista teve direito, somente, a 15.000 bilhetes. A “festa” da prova rainha realiza-se num estádio ultrapassado, com 80 anos, e que deixa mais do lado de fora do que do lado dentro. A contrastar com a nossa realidade, tivemos há duas semanas, a final da Copa do Rei, no renovado estádio de La Cartuja, em Sevilha, onde estiveram a assistir ao jogo mais de 70.000 espectadores. Segundo o testemunho prestado pela responsável do pelouro da cultura e desporto da Andaluzia, Patricia del Pozo, o evento teve um impacto económico, na comunidade, superior a 90 milhões de euros.
O clássico espanhol, Barcelona-Real Madrid, teve uma repercussão mediática internacional que alcançou 450 milhões de espectadores, tendo sido visto em mais de 100 países. São valores que nos parecem de ficção, mas são a realidade. Uma realidade que foi criada por quem teve ambição e viu, em devido tempo, que o futebol tem público muito para lá das fronteiras físicas de cada campeonato. Para quem procura desculpas, poderá encontrar a justificação na diferença de população entre Portugal e Espanha. Mas é argumento que não colhe porque o público do campeonato espanhol ultrapassa, em muito, os 48 milhões de habitantes.
É nesta dimensão internacional do futebol espanhol que os clubes conseguem angariar as receitas que permitem manter os melhores jogadores dentro de casa, sem ter de os vender para socorrer a recorrentes crises de tesouraria. É tempo de os nossos dirigentes terem ambição, de seguirem os bons exemplos e eles estão mesmo aqui ao lado.