Pôr-se a jeito não é estratégia
Se se alguém acha normal que o Vitória entre em campo na segunda parte para defender uma vitória, em casa, por um a zero, então se calhar estão no clube errado
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1 - O futebol é mesmo um jogo aleatório. Quantas vezes saímos satisfeitos pela exibição, mas a lamentar a perda de pontos. Outras tantas, sofremos com a exibição mas agradecemos aos deuses pelo resultado. A questão é que nem tudo é sorte e se não fizemos a nossa parte, bem podemos apelar a todos os amuletos e santinhos do mundo, que, mais cedo do que tarde, as coisas vão correr mal. Temos que fazer a nossa parte. Foi isso que não fizemos na segunda parte do jogo de ontem.
Sinto falta do ritual de ir à bola. Nos dias de hoje, ele limita-se ao sofá e a mudar de canal. Está feito. A pensar na falta que a ida ao estádio me faz, lembrei-me dos tempos de miúdo, com outros rituais e com a companhia do meu pai.
O Portimonense (ao contrário das outras equipas que já perceberam as nossas dificuldades a sair a jogar) resolveu dar-nos a iniciativa do jogo, sem pressionar e o Vitória agradeceu, tomou conta da partida e só um mau processo de decisão no último terço ia impedindo a bola de entrar. Até que chegou o golo e depois o intervalo. As coisas pareciam perfeitamente controladas. O problema foi que, na segunda parte, as equipas mudaram de atitude. E se a dos algarvios era esperada, a nossa foi incompreensível. É que se se alguém, seja equipa técnica, sejam os jogadores, acha normal que o Vitória entre em campo na segunda parte para defender uma vitória, em casa, por um a zero, contra o Portimonense, então se calhar estão no clube errado. Pusemo-nos a jeito. No final, as coisas acabaram por correr bem, mas não se pense que vai ser sempre assim. Porque nunca é.
2 - Sinto falta do ritual de ir à bola. Nos dias de hoje, ele limita-se ao sofá e a mudar de canal. Está feito. A pensar na falta que a ida ao estádio me faz, lembrei-me dos tempos de miúdo, com outros rituais e com a companhia do meu pai. A ida muito cedo para o Estádio, porque durante muitos anos víamos na antiga "central" e chegar em cima da hora significava nãoarranjar um lugar de jeito. O trajeto feito a pé, numa caminhada de cerca de um quarto de hora, rumo ao outro lado da cidade. Pelo caminho, de bandeira em punho, cruzávamo-nos com amigos que o meu pai ia saudando. À chegada ao Municipal, o habitual caos automóvel. Depois, a fila para entrar, os miúdos que pediam ao meu pai para entrar com ele e os senhores com os crachás a dizer "AF Braga". Logo a seguir, a compra do bilhete para o sorteio da bola (que nunca saía). Lá dentro, a procura pelo melhor lugar, numa zona o mais central possível e a espera, que normalmente ainda era longa, pelo início da partida, a observar o aquecimento. E finalmente o apito inicial e as emoções vividas ali, que são incomparáveis ao nosso atual sofrimento caseiro. Que saudades!
3 - Faleceu esta semana aquele que era o sócio número um do Vitória, alguém que tinha setenta e muitos anos de dedicação à causa vitoriana. À família do Sr. Joaquim Barroso, apresento os meus sentimentos.