Podíamos apelidar o centro do terreno do Vitória de "casa de Irene"
A qualidade de Janvier é reconhecida por todos, mas normalmente a sair do banco. Ora, quando Pepa aposta nele de início, o francês tem de render.
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Se há quem chame ao meio-campo a "casa das máquinas" de uma equipa, então podíamos apelidar o centro do terreno do Vitória de "casa de Irene", pedindo desde já desculpa aos leitores mais novos pela analogia de que só os da minha geração "para cima" entenderão. "A casa de Irene" era o título de uma novela dos 80, aludindo a uma pensão onde muita gente entrava e saía. Assim é.
No Vitória, não só é raro que se repita um trio do meio-campo de jogo para jogo, como é frequente que, durante os 90 minutos, saiam os três e entrem outros três. Isso voltou a acontecer no jogo contra o Boavista. A um trio inédito com Alfa, Tiago e Janvier, sucedeu-se um outro com Händel, André André e André Almeida. Foi assim e assim tem sido, cabendo perguntar se isso não impedirá que os tão famosos "automatismos" de que falava Gabriel Alves se estabeleçam. O míster dirá que, com tanta qualidade a pisar aquelas zonas do terreno, é normal que haja rotatividade. Poderia também aduzir que cada jogo tem a sua história e sobretudo um adversário que aconselha este jogador em detrimento daquele. Tudo certo, mas parece que a equipa ainda não tem rotinas tão enraizadas que possam sobreviver a rotação tão desenfreada.
Na quarta, seguramente pensando nas dificuldades do nosso setor mais recuado, Pepa optou por colocar Alfa Semedo a 6. Percebe-se: o guineense dá outro poderio físico, outra capacidade de recuperar bola e mesmo presença na área que Händel não dá. O problema é outro. Jogando com Alfa, a nossa capacidade de construir desde trás encolhe e se o adversário pressionar a nossa saída de bola, isso obriga os outros dois médios a recuar para tentar organizar o ataque, o que os distancia dos avançados, levando a que o nosso jogo se resuma praticamente ao ataque às costas do inimigo, através de passes longos. Só na segunda parte, com o recuo dos axadrezados na defesa do resultado e a entrada do capitão a coisa melhorou, se bem que só ligeiramente. Quando Händel entrou enfim para o lugar de Semedo, já só faltavam vinte minutos para o fim e a ansiedade instalara-se. Ainda assim, o nosso golo nasce de uma reposição de André para Händel, que rapidamente colocou entre linhas em Lameiras. O virtuosismo deste, o falhanço de Bracali e o oportunismo de Oscar fizeram o resto. Aquele passe simples do miúdo é um exemplo do que ele pode dar e outros não. Duas notas finais: quando se dá uma oportunidade a quem delas reclama, tem de haver rendimento. A qualidade de Janvier é reconhecida por todos, mas normalmente a sair do banco. Ora, quando Pepa aposta nele de início, o francês tem de render. A sua exibição discreta foi uma oportunidade perdida. Já Lameiras, esse, nas mesmas circunstâncias, agarrou a chance com as duas mãos. E deixou-nos a todos um pouco mais tranquilos para enfrentar um mês de janeiro que pode ser de saídas importantes.