Paulo Faria, antigo internacional A de andebol e ex-treinador escreve para O JOGO
Tenho na minha forma de estar um pensamento sempre positivo em relação as adversidades e ao imprevisível, mas nem consigo imaginar as dificuldades de dirigentes e treinadores em conseguirem construir um plano de trabalho que tenha a expectativa de ser permanentemente alterado.
Nós, treinadores, é no papel que me quero colocar hoje, sempre que preparamos uma fase da época desportiva, ela tem uma data, um prazo, fazemos um macrociclo, subdividimos em microciclos e, no fim, em unidades de treino.
Esta construção tem um padrão de uma época desportiva normal, um período de pré-competitivo (pré-época) e depois o período competitivo. Sem pormenorizar muito, isto é aquilo a que todos os treinadores estão formados/habituados a fazer, é aquilo que aprenderam e aquilo que conhecem.
Sendo assim, que nome damos aos últimos dois meses, sem competição e sem os jogadores saberem quando ela retoma? Que nome damos a este momento que os campeonatos já terminaram e em que a competição só voltará em setembro? Normalmente a interrupção é de um mês.
Serão aproximadamente cinco/seis meses sem competição ou eventualmente mais.
E aqui começam as minhas duvidas?
Hipótese 1 - Imaginemos que a competição volta em meados de setembro, e que temos a possibilidade de voltar a treinar em conjunto. Quando deverão começar os treinos?
Que tipo de adaptação ao treino têm que ter os jogadores depois de cinco meses sem competição? O normal eram 30 dias.
Parece-me que o papel de psicólogos, médicos, fisiologistas do esforço e fisioterapeutas é nesta fase de especial importância, para construírem com os treinadores, um plano de treinos que concilie, performance física e psicológica com um trabalho decisivo de prevenção de lesões.
Hipótese 2- Imaginemos que a indefinição se mantém. Que podemos, nós, treinadores, fazer? Quem sabe, se nunca aconteceu? Quem tem certezas se nunca leu nada igual?
Este é um dos momentos mais difíceis para qualquer treinador, que vai obrigar a muito trabalho de partilha.
Outro momento super critico é impacto negativo que esta paragem forçada tem na formação dos nossos atletas mais jovens.
Que não tenhamos qualquer duvida que as etapas do processo de aprendizagem e desenvolvimento e um jogador jovem, associadas à idade, irão passar e teremos, obrigatoriamente, perda de qualidade nos escalões seguintes, uma vez que o crescimento não pára, como os momentos da aquisição e consolidação da técnica individual também não.
Os treinadores assumem nesta fase uma importância suplementar.
