As eleições de 2020 no Benfica foram um compêndio de asneiras: comandante invencível, reforços dourados e uma equipa desconsiderada pelos excessos eleitorais. O final é de uma ironia incrível.
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As eleições do Benfica em 2020 devem ficar registadas em livro, em nome da profilaxia dos grandes desastres, como a invasão da Rússia no inverno, por Napoleão.
Para começar, estávamos no "inverno" da pandemia, que só por si desaconselhava aventuras, e Vieira achou bem pensado ir recuperar o seu Napoleão, ou melhor, o seu Napoleão com esteroides brasileiros.
Naturalmente, Jesus Bonaparte chegou montado num cavalo branco, muitos metros acima dos mortais, e Vieira artilhou-o com o melhor exército jamais visto para cá dos Cárpatos. Mas aquele Benfica ganhara uma coisita ou duas sem os regimentos novos e sem precisar de um imperador. De um momento para o outro, Rafa e Pizzi (e este para durar) passavam de figurões da equipa a refugo de Darwin, Everton, Waldschmidt e Pedrinho, que a propaganda de Vieira vendia aos eleitores como contratações galácticas. Reflitam comigo.
Imaginemos que sou Pizzi, saído de uma época em que marquei (respirem fundo) 31 golos e fiz 19 assistências. Ainda tenho os dois joelhos, acabei de fazer 50 jogos. Será inteligente impingir os reforços como especiais de corrida, arautos do IV Reich benfiquista na Europa, sem o cuidado de não me fazerem sentir vulgar e de segunda apanha? Vender ilusões aos adeptos, contratar um treinador infalível e desrespeitar uma equipa foram erros básicos que se fizeram pagar um por um, no ressentimento dos benfiquistas para com Jesus, na sobrevalorização insensata dos reforços e, principalmente, no ressentimento dos bons jogadores que foram ignorados. Há uma tonelada de ironia no facto de Pizzi ter sido o pretexto para recambiar Napoleão Bonaparte à Ilha de Santa Helena.