SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões.
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Era o grupo da morte e acabaram todos no cemitério. Perante uma Alemanha com jogadores esgotados, pouco ambiciosa e com falta de classe, só Portugal mostrou respeitinho (ou receio) e, por isso, perdeu.
Ora a Inglaterra preferiu iludir o cansaço com um jogo cauteloso à Portugal de 2016 e assim ganhou a organização e perdeu quem cometeu mais erros. A Suíça foi a grande surpresa dos oitavos. Teve o pássaro na mão para "matar" a França, deixou-o fugir e, mesmo antes de entregar a alma ao criador, ressuscitou ao 3º golo de franceses que já festejavam e, merecidamente, ganhou em competência nos penáltis.
Nós perdemos contra os outra versão de Portugal/16, essa Bélgica cheia de grandes jogadores, mas que só fez um remate à nossa baliza, infelizmente certeiro, enquanto os nossos enviaram duas bolas nos postes e falharam, ou o guarda redes belga defendeu por instinto, outras três ou quatro belíssimas oportunidades.
Merecíamos passar se houvesse justiça no futebol? Sem dúvida, mas essa noção não existe, apenas contam as bolas que entram. Uma palavra de apreço para alguns dos mais velhos, sobretudo Pepe (continua a dar dez a zero a outros centrais de renome 10 ou 15 anos mais novos), Moutinho, Patrício e Ronaldo. Fazem parte de outra "liga", continuam a jogar mais e a mostrar aos restantes como se chega ao topo. Vamos passar tempos muito complicados quando deixarem a Selecção. Com justiça também é de destacar o bom trabalho de Renato Sanches, tal como Palhinha e mesmo Dalot. Diogo Jota foi inconstante, pois esteve sempre ligado aos jogos mas falhou muitas oportunidades. Custa-me entender por que razão o segundo melhor marcador da Bundesliga, André Silva, foi tão pouco aproveitado, ele que vinha cheio de confiança. E não se percebe a insistência em jogadores de elite como Rúben Dias (foi para o campeonato visivelmente esgotado e não conseguiu atingir o nível desejável), Bernardo Silva (não pode ser encostado ao corredor direito pois é um excelente 10 com um passe final de eleição) e Bruno Fernandes (passou ao lado da competição, para ser simpático). São atletas que dão tudo em campo mas, cansados como estavam, não conseguiram fazer a diferença e ser mais-valias. A Selecção tem argumentos para se impor no grupo de apuramento para o Mundial do Qatar, mas Fernando Santos terá que encontrar o melhor equilíbrio entre classe, talento, trabalho de equipa e força física.
Neste Europeu jogado em tantas cidades e países, a maior parte das equipas apuradas para os quartos de final são as que estão melhor fisicamente. Podem não ter um futebol de excelência, mas os tais que exibiam, ou proclamavam, essa excelência já estão fora da prova. A gestão do esforço é fundamental para estas competições realizadas no final de cada época, ainda mais porque salta à vista que a FIFA vai passar a realizar Mundiais de 2 em 2 anos e a UEFA vai fazer o mesmo nos Europeus. Tal implica repensar os campeonatos nas ligas mais exigentes (Inglaterra, Espanha, Alemanha) de modo a não vermos espectáculos em que tantos jogadores se lesionam, têm cãibras ou denotam problemas decorrentes de corpos que estão nos limites. Durante a época, os atletas dos clubes das ligas mais fortes estão na plenitude física pelo que os respectivos clubes são os principais candidatos às vitórias nas competições europeias. Em Portugal precisamos de incrementar (não diminuir, como alguns tentam apregoar) os níveis de exigência da componente física e a competitividade, para podermos ter melhores argumentos lá fora. Mas devemos fazê-lo com inteligência, análise das circunstâncias e propostas coerentes. Tal como na Selecção, os responsáveis das nossas ligas têm que ser inteligentes. Colocando a competitividade desportiva acima de resultados financeiros que, na verdade, se devem aos custos de inscrições e às contribuições e multas que os clubes pagam.