PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 A sucessão de lances de "interpretação criptada" ia devorando o melhor que este duelo, entre o "FC Porto mutante" e o "Paços mecânico", teve de mais visível.
Por entre essas fendas de dúvidas, um grande jogo.
Sem perder de vista o campo todo (e todos os momentos do jogo) Pepa voltou a mostrar como sabe montar uma equipa (para jogar e travar o jogar adversário). O meio-campo do seu 4x3x3, com Eustáquio e Bruno Costa a jogar e a recuperar, sempre apoiado por um n.º 8 que é uma espécie de "castor Matusalém", Luiz Carlos. Soube, assim, construir (e solidificar) a vantagem (no "jogo tático" e resultado) sem nunca se meter numa "trincheira".
O "FC Porto mutante" nasce de como Conceição aborda esta época com um "caderno tático" mais variado. Sistemas, dinâmicas e... jogadores. Se Otávio era a chave da transformação do 4x4x2 em 4x3x3 ao abrir na faixa ou fletir como n.º 10, quem agora surge nas mutações desde a estrutura inicial como elemento mais móvel (posições e missões) é Sérgio Oliveira.
2 Pode parecer estranho, mas tem mais responsabilidades defensivas como vértice ofensivo do triângulo (em "2x1" contra o Olympiacos, com duplo-pivô Uribe-Fábio Vieira) do que a pivô n.º 6, atrás de dois interiores (em "1x2" contra o Sporting, com Uribe-Otávio subidos). Na primeira forma, tem a missão prioritária de (como médio mais adiantado, não mais ofensivo) pressionar alto a saída adversária. Na segunda, tem missão de iniciar a construção. Pelo meio, os sistemas de defesa a "3" (de contraestratégia, 5x3x2 em Manchester, de balanço ofensivo com o Gil, 3x3x2x2). Ao mudar tanto (sistemas e dinâmicas, jogadores e suas posições) ainda não estabilizou um padrão de jogo que lhe sirva de referência-base.
3 Nessa linha, surgiu em Paços com um novo pivô, Gurjic, mais Sérgio Oliveira-Uribe adiantados e Otávio desde a ala. As armadilhas montadas pelo "jogo castor de Pepa" não o deixaram, porém, respirar como queria e falhou demais a defender. Na segunda parte, Sérgio Oliveira voltou a mudar para pivô 6 (com Nakajima-Otávio dupla à frente), mas era o "Paços mecânico" inalterável nas suas convicções de jogo a controlar. Seguro e ousado.
Perante a tentativa portista final, estendida num 4x4x2 de "risco total", plantou um trinco-gigante, Diaby, que soube, pela serenidade física-técnica (junto do "pacemaker" Eustáquio) controlar o "mundo camaleónico azul" que, no meio da encruzilhada coletiva em que caíra, teve o último fôlego numa "bomba individual" de Otávio.
Sem gritar muito, o onze "castor mecânico" ganhou pela maior naturalidade de tudo o que fez. Plano de jogo e reação ao seu desenrolar (táticas e incidências).
Vamos contar remates
Percebo Carvalhal querer ver enaltecido o Braga ter feito 22 remates num jogo (mais que outra equipa nessa ronda da Liga Europa). Traduz grande volume ofensivo. Mas, sem ver o jogo, eu não iria, só por esse facto, concluir que tinha jogado particularmente bem. Apenas que rematara muito.
Como comentei o jogo, sei que fez uma excelente exibição, mas, sinceramente, nunca contei remates (nem no fim). É-me indiferente.
Elogiei o Braga pela capacidade de pressão coletiva/sincronizada constante para recuperar a bola em zonas altas, encostar o adversário atrás mantendo-se em organização ofensiva continuada, circulando bem a bola "por fora e por dentro" e criando bons lances de envolvimento e oportunidades de golo. Se, depois disto, tivesse só feito metade dos remates teria igual opinião. Como, se não assistir ao próximo jogo e verificar na estatística final que só rematou seis vezes, não vou logo concluir que esteve mal.
Enaltecer o atacar bem não é contar remates. A matemática tanto é a melhor amiga como a pior inimiga duma equipa (e perceber seu jogo). Este Braga não precisa disso.