PASSE DE LETRA - A crónica de domingo assinada por Miguel Pedro
Corpo do artigo
Hoje é dia de dérbi minhoto. SC Braga e Vitória SC encontram-se numa espécie de eterno tira-teimas, um jogo que tem sempre um sabor especial, uma rivalidade muito própria, resultante da proximidade geográfica das duas cidades.
Paulinho marcou, finalmente, um golo que há muito já merecia
Mas o jogo de hoje terá a rivalidade amputada. Na verdade, quem realmente sente a rivalidade e que empresta esse colorido ao "nosso" dérbi são os adeptos, os sócios, as claques. As constantes provocações, os aplausos e assobios, as coreografias são parte integrante dum dérbi como o "nosso". Os jogadores, esses não sentem (nem têm de sentir, em boa verdade) os dérbis.
Será um jogo ao qual terão de se entregar, que terão de ganhar, mas são todos profissionais e, nesse aspeto, as emoções e rivalidades não deverão entrar em campo. Só que os adeptos não estarão na bancada, por isso será um dérbi com sabor diferente... com menos rivalidade. Amputado. Faltará esse sal, sentiremos menos que se trata do "nosso" dérbi.
Mas, pelo menos, um adepto estará lá, sentado no banco de suplentes do SC Braga. Estará na qualidade de treinador, bem sei. Mas ele conhece bem o que significa um Braga-Vitória. Carvalhal, que é um entusiasta da própria história do clube onde trabalha, como sou eu, o meu pai, o João Miguel (que por vezes partilha este espaço de escrita comigo) ou o Evandro, o José Machado e tantos outros bracarenses para quem a história centenária do Braga não é indiferente, sentirá o nervosismo típico que sentimos todos antes de o dérbi começar.
Confesso que fico contente e emocionado quando Carvalhal, vestindo também a pele de adepto, por cima da de treinador - como fez na flash interview após o jogo de quinta-feira -, fala sobre os "antigos" jogadores do clube, sobre os "mais antigos" adeptos e associados, sobre pedaços da história do Braga. Carvalhal estará no jogo de hoje como treinador da equipa, mas sei que, lá por dentro, o adepto irá mexer.
Um dérbi que se antevê muito equilibrado. Um Vitória que até está com vantagem pontual na classificação (o que não tem sido usual nos últimos anos) e que teve recentemente um reforço de peso, o competente treinador João Henriques, contra um Braga em manifesto crescendo exibicional e com um incremento de moral resultante da estrondosa e justíssima vitória contra os gregos do AEK Atenas.
Paulinho marcou, finalmente, um golo que há muito já merecia; e como dizem que "o que custa é o primeiro", antevejo que muitos se seguirão, já de seguida. No final, e independentemente do resultado, teremos uma certeza: para o ano, outro dérbi virá. E assim sucessivamente. Mas - esperamos todos - com muitos adeptos na bancada.