O Braga apontou espingardas e o Benfica aproveitou para saltar fora da Direcção, mostrando que não esqueceu a derrota do seu candidato, em 2015.
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Em 2015 foi eleito Pedro Proença no confronto (educado) com Luís Duque, que tinha substituído o inenarrável Mário Figueiredo. Consultor financeiro, Proença é por muitos considerado o melhor árbitro português e, em termos curriculares, merece bem esse título. Recordo actuações suas. Era dos que se impunha de forma natural. Tinha classe e não se amedrontava com ambientes hostis ou o nome dos clubes.
"Na altura, conversei com Luís Filipe Vieira, apoiante de Duque, e disse-lhe que este não tinha hipóteses. Era uma luta perdida, pois alguns clubes que (lhe) diziam votar Duque só o faziam para não ficarem de mal com o Benfica"
Duque tinha cumprido uma missão difícil, mas, talvez pelo temperamento algo volúvel, prometia demasiado a todos, esquecendo facilmente o combinado. Na altura, conversei com Luís Filipe Vieira, apoiante de Duque, e disse-lhe que este não tinha hipóteses. Era uma luta perdida, pois alguns clubes que (lhe) diziam votar Duque só o faziam para não ficarem de mal com o Benfica. Para além disso, alguns apoiantes de Duque antagonizavam de tal forma os presidentes de clubes que iam votar Proença que inviabilizavam qualquer conversa civilizada.
Proença foi eleito e procurou modernizar o funcionamento da Liga e ultrapassar os enormes constrangimentos financeiros herdados, o que conseguiu, muito à custa dos clubes da I Liga, que abdicaram de receber verbas a que tinham direito para endireitar as contas da Liga. Aos poucos, conseguiu esse desiderato, como se comprova pelo facto de conseguir disponibilizar 1,5 milhões de euros para atenuar os prejuízos do encerramento compulsivo da II Liga e tentar calar os respectivos clubes (pelo menos o Cova da Piedade será difícil).
Nos anos que leva na presidência da Liga, Pedro Proença mostrou algum desconforto por não ter o apoio do Benfica e do seu ponta de lança Braga. Com a alteração do modelo de governação da Liga (deficiente e ineficiente, pois não é carne nem peixe) tentou a aproximação aos encarnados. O fim do conselho de presidentes, um órgão de grande importância, em detrimento de uma Direcção que tem em permanência Benfica, Porto e Sporting e depois um rodízio de outros clubes da I e II ligas, nada trouxe de positivo.
Como o envolvimento dos três clubes nas decisões ficou dependente das respectivas agendas, instalou-se aquilo que se pode designar uma paz podre, em que Proença era alvejado quando necessário e várias vezes de forma pouco digna. Com a capacidade de sobrevivência e a inteligência que caracteriza um árbitro internacional de nomeada, Pedro foi a votos sem adversário (o pior que lhe podia suceder, pois assim o mau clima apenas foi disfarçado, em vez de haver uma divisão de águas para se perceber os diversos interesses em jogo) e praticamente todos votaram nele. Inclusivamente Benfica e Braga.
Este ano tem sido penoso. Dizia que não havia nenhum problema com o (s) contrato (s) assinados com a chinesa Ledman para o patrocínio da II Liga. Pois sim! A Ledman alegou incumprimento e saiu - e Pedro é responsável em toda a linha. Com a Covid 19 deu um tiro no pé e mostrou que há filhos (a I Liga) e enteados (a II), algo que nenhuma outra liga europeia fez. Arranjou, a reboque de Fernando Gomes, um expediente para dar dinheiro à II Liga, que teria sido bem mais benéfico se utilizado para acomodar o resto desse campeonato ao invés de o encerrar. Agora vai ter à perna os clubes da I liga que perdem os patrocínios dos direitos televisivos e querem compensações (mas já não há verbas na Liga...). Foi, como convidado de última hora de um convidado a sério, à reunião com António Costa e não foi capaz de representar com igualdade os clubes que o elegeram. Despachou o fim da II Liga numa reunião que os presentes consideraram "é assim porque tem que ser assim".
De forma imprudente, escreveu carta ao Presidente da República (que nada tem que ver com os assuntos do futebol), sem cuidar de falar antecipadamente com os clubes e as operadoras. Tentou emendar a mão, referindo que futebol em sinal aberto só se as televisões pagassem. Está-se mesmo a ver o filme! A NOS anunciou que não vai renovar o patrocínio à I Liga. O Braga apontou espingardas e o Benfica aproveitou para saltar fora da Direcção, mostrando que não esqueceu a derrota do seu candidato, em 2015. Até os resultados dos testes à Covid 19 são motivo de controvérsia (mal esclarecida, de facto). Está aberta a caça. Aceitam-se apostas!