PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Até onde se pode ser fiel às mais sedutoras ideias? Este Estoril era uma boa forma de poder impulsionar esse sonho, mas o jogo com o Sporting mostrou como, num ápice, o modelo de Bruno Pinheiro de respeito pela posse de bola se converteu à "realpolitik tática" e cedeu à estratégia de fechar espaços, mudando perfil do meio-campo e escondendo a equipa atrás (e, na prática, do jogo).
A opção de, a defender, recuar o pivot para o meio dos centrais é básica para permitir aos laterais manterem-se em largura a cobrir nas faixas contra equipas que (como o Sporting) jogam a "3" e têm como principal fonte de dinâmica ofensiva a subida dos seus laterais. Foi o que o Estoril fez. Deixou laterais contra laterais e tornou Gamboa quase terceiro central.
A equipa ficava, assim, mais densa a defender (marcando no meio o trio ofensivo leonino) mas, como dano colateral táctico, excessivamente recuada, sem bola e sem poder aplicar o seu modelo de posse e saída rápida/apoiada como sabe fazer. Mais que nuances estratégica foi adulteração de identidade
Neste contexto, Palhinha até conseguiu, por posição, jogar em cima do meio-campo estorilista, comendo todas as bolas e empurrando a equipa 90 minutos até ganhar um jogo de sentido único que, afinal, o Estoril perdera, no plano da defesa das ideias próprias, antes de o jogar.
2 Nota de destaque na exibição do Sporting: Paulinho voltou a não marcar. Paulinho voltou a jogar bem. E muito. Recebe a equipa na frente, joga com ela em apoios ou solta-se pedindo ele esse apoio. Teve bons passes e remates (o poste e cortes sobre a linha roubaram o golo). Questionar o seu valor/importância no jogar deste Sporting é como negar todo o modelo de jogo da equipa.
3 Descobrir por qual dos três corredores atacar para furar defesas mais fechadas é, quase sempre, o "clique" para estes duelos equipa grande-equipa pequena. O FC Porto trazia ideia de abrir o jogo com Luis Díaz na faixa (talvez pensando no Moreirense com três centrais a defender a "5"). O onze de João Henriques defendia, porém, num 4x5x1em bloco baixo com três médios no meio.
A reação de Conceição, em 4x3x3, juntando ao seu triângulo do meio-campo (com interiores subidos Fábio Vieira-Vitinha) os alas (Octávio por vocação, Díaz por estratégia alterada) montou, por dentro, uma espécie de quadrado de jogo interior profundo, furando o muro de Moreira.
Foi o jogo ideal para o onze-táctico portista estruturar-se em 4x3x3 (há outros mais para 4x4x2) e tornando a posse mais agressiva ganhou metendo a maior mobilidade dum segundo-homem (muito bem Fábio Vieira para recuperar a bola e rapidamente avançar/romper com ela) atrás do clássico 9 Taremi.
Arouca, "Evangelista e Pité S.A."
Tem tido um inicio de campeonato com exigência elevada, mas embora precisando crescer em todos os sectores, o Arouca assume uma competitividade assinalável, quer colectiva (bloco junto) como individual (lances divididos). O jogo com o V. Guimarães estava perdido, no resultado, a quinze minutos do fim mas, no jogo, a equipa atravessava o seu melhor momento. Não é contradição. É, antes, prova dessa tal competitividade que neste jogo concreto foi impulsionada desde o banco onde o treinador Armando Evangelista teve de jogar muito para inverter o destino traçado do resultado.
Mais do que a mudança de sistema, metendo dois pontas-de-lança, foi abrir melhor o jogo com Arsénio e, sobretudo, de inverter estilo da zona central do meio-campo, tirando o trinco Kouassi e lançando Pité, um jogador que, após tantas épocas perdido na ala, até como lateral, a jogar em picos, se tornou hoje um desequiibrador interior com pensamento e finalização. Foi ele que, no epicentro da alteração táctica colectiva, mudou o jogo.
Evangelista tem nele a chave para a competitividade da equipa poder agora, em jogos ditos mais acessíveis, solidificar referências de crescimento que todas equipas têm de criar neste processo de construção inicial.