PLANETA DO FUTEBOL - O exercício que todos deviam fazer para verem se sabem mesmo analisar um jogo (e as equipas) e fugirem à "bipolaridade de avaliação resultadista".
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1 A forma como as análises e avaliações ao valor das equipa muda tão rapidamente tem sempre um argumento demolidor: os resultados.
Eles esmagam qualquer outro prisma de análise. Impedem de ver a exibição, que, se olhada pelo microscópio do "jogo completo" (sem saber o resultado), talvez levasse a conclusões diferentes. É por isso que sugiro fazerem um exercício que permite verem o mesmo jogo de forma diferente. Como?
Vejam um jogo mas retirem dele as jogadas que deram os golos, e, no fim, sem saberem o resultado, porque esses lances foram omitidos, digam o que pensam do jogo, das duas equipas, quem atacou ou defendeu melhor, quem, no fundo, jogou melhor e qual seria o resultado do jogo.
Ou seja, desta forma está desfeita qualquer hipótese de análise meramente "resultadista" (porque só vemos o jogo sem as jogadas que fizeram o... resultado) para, assim, se fazer uma verdadeira e fria análise ao jogo. Aposto que, muitas vezes, (a maioria) as conclusões sobre a qualidade e valorização sobre a mesma equipa iriam mudar.
2 Penso nisto aplicado ao futebol português e, naturalmente, aos jogos dos grandes que têm, no caso de Benfica e FC Porto, colocado tanta coisa em causa neste arranque de época. Basta, por exemplo, pegarem nas derrotas em casa (os jogos, respetivamente, contra Braga e Marítimo).
Vejam esses jogos retirando os lances dos golos que fizeram ambos acabar 2-3. Duvido que, sem verem as jogadas que deram golos (dos dois lados) apontassem para esse resultado. Nem quero para esta análise que recorram a dados estatísticos, sobre quem rematou ou atacou mais (posse de bola, cantos, faltas, etc.). Não. Só o jogo mesmo, a exibição das equipas e como, no fundo, o "jogar bem competitivo" estará em criar melhores envolvimentos atacantes e, ao mesmo tempo, manter um equilíbrio defensivo seguro.
3 Não estou, atenção, a querer dizer com isto que Braga e Marítimo não tenham vencido com mérito esses dois jogos. Estou a querer dizer como tantas vezes as avaliações da crise das equipas é manifestamente exagerada em face da mera constatação dos resultados. Exatamente como antes, da mesma forma, quando ganharam, essas avaliações foram (talvez) sobrevalorizadas pelo simples resultado positivo. Tentem fazer este exercício num próximo jogo.
A avaliação/análise das exibições das equipas (dos jogos e treinadores) caiu num alçapão de "bipolaridade resultadista". Ninguém olha para o jogo. Olham para o resultado, centram depois as análises nos lances dos golos e a partir daí tiram conclusões sobre o... jogo todo (e até sobre valor dos jogadores). É o erro infantil da análise futebolística.
De se tirar o "chapéu"
Um jogo (um treino de organização ofensiva) que uniu duas formas do futebol tratar a vida e carreira de um futebolista. De repente, no ataque de Portugal contra a imberbe seleção de Andorra, estavam juntos o supercraque mundial que todos consagram (Cristiano Ronaldo) e o craque que se fez a custo, das profundezas da sua existência anónima em divisões secundárias, e que, por fim, após já provar tanto nos relvados da I Liga, chegava ao auge da seleção: Paulinho, um n.º9 feito sem os "efeitos especiais" mediáticos.
Aos 28 anos será tarde, pela ditadura da idade, para o ver como uma promessa ou sequer uma revelação. É, isso sim, uma confirmação. Jogou sem a ansiedade de quem chegou ao cume da montanha após tantos dias e noites de escalada. Jogou como sabe. Fez golos como respira. Festejou-os com a naturalidade com que se encontra com eles.
Devia, claro, ter chegado mais cedo à seleção. A dedicação de Paulinho à sua "causa de vida e golos" mostra como a evolução de um jogador (e seus objetivos de carreira) são uma história interminável até ao último dia.