José Gomes é jovem (...) O corporativismo sempre se revelou mau conselheiro. A autoridade moral esboroa-se quando se perde noção do alcance das palavras e suas implicações
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De médico e de louco todos temos um pouco. Verdade? Mentira? Os factos e as práticas parecem confirmar. Perante um qualquer ligeiro problema de saúde que nos afete, rapidamente recorremos a conhecimentos empíricos no tratamento da maleita, por vezes com consequências desagradáveis. Ser-se árbitro não pressupõe dose de loucura ou irresponsabilidade, porém, perante a contestação e ausência de consideração generalizada que os demais agentes com ligações ao desporto e em particular ao futebol tributam, parece que sim ou, então, quem à atividade se dedica deve sofrer de desequilíbrios masoquistas. Porque a segunda hipótese não se afigura verosímil, a primeira é perfeitamente exequível, basta atentar-se nas recentes declarações, desprovidas de senso, do dirigente máximo da associação de classe, que solicitou punição para todos quantos critiquem os árbitros. José Gomes é jovem, conseguiu recentemente vitória pífia com a instituição do profissionalismo (?), mas, provavelmente, desconhece que o "papagaio come o milho, o periquito leva a fama", ou que a justiça começa em casa, pois, para termos autoridade de julgar outrem, cumpre julgar primeiro os nossos ou os mais chegados. A crítica, sendo uma censura, servindo ocasionalmente de condenação (algo particularmente relacionado com a arbitragem), desde que fundamentada em critério, constitui-se juízo de valor, conduz a mudanças, escalona competências, consagra unanimemente os mais capazes. Outrossim, quando tanto se discute sobre o desrespeito evidenciado pelos governantes sobre direitos e garantias fundamentais do povo, embora não se aceite que um cidadão corrobore as execráveis desconsiderações do Governo à Constituição da República Portuguesa, não é de estranhar que o presidente da APAF debite opinião ou manifeste sugestão sem ter em consideração o vertido na Lei Fundamental da Nação relativamente a Liberdade de expressão e informação. O corporativismo sempre se revelou mau conselheiro. A autoridade moral esboroa-se quando se perde noção do alcance das palavras e suas implicações.