PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - As falhas individuais têm sido, nos jogos, uma fonte de problemas para o Benfica, mas não são, no prisma do seu jogar, a causa dos problemas da equipa. Ou seja, são esses erros que a colocam a perder, mas são as questões de fundo que a impedem de ter consistência na qualidade de jogo.
Não coloco em causa o valor teórico, estatuto adquirido pelas carreiras, de Otamendi e Vertonghen, mas ambos são, neste momento, centrais em curva descendente da sua carreira
Não coloco em causa o valor teórico, estatuto adquirido pelas carreiras, de Otamendi e Vertonghen, mas ambos são, neste momento, centrais em curva descendente da sua carreira. Este simples facto, por si só, já torna questionável a aposta numa dupla deste tipo. Os jogos tornam tudo mais visível. Os erros que cometem têm impacto em toda a equipa. O jogo na Madeira começara com a equipa a atacar bem, mas, de repente, um erro arrepiante de Otamendi reacendeu os piores sintomas.
2 - No plano do jogo coletivo, Pizzi a n.º8 deu um novo impulso ao 4x4x2, com o "meio-campo a dois", mas é visível que ele já não tem o ritmo alto constante de outrora. Gabriel dificilmente será o n.º6 que Jesus quer. Tem características físicas para isso, mas perde de mais a concentração de posicionamento defensivo quando sobe. Os dois juntos, Gabriel-Pizzi, como donos da "sala de máquinas" da equipa são, assim, uma fator de "qualidade instável".
Tanto podem criar um golo (como o 1-1) como perderem a cobertura rápida pós-perda da bola. Só resta um sector, o único através do qual o Benfica consegue ganhar o jogo: o ataque. Os outros (defesa e meio-campo) tornaram-se um problema para o fazer com a qualidade com que os avançados o fazem. O aparecimento de "Cebolinha" (a sua melhor exibição com a camisola encarnada) mostrou isso. E, assim, ganhou por ele.
3 - O jogo interior como segredo da definição... decisiva. Vindo da raiz da construção imaginativa com "Pote" Gonçalves ou da mobilidade imprevisível de Luiz Díaz. O leão pensando como médio ofensivo, quase segundo avançado, o dragão como um extremo libertado da faixa para inventar no meio. Ambos fizeram golos decisivos nas vitórias de Sporting e FC Porto.
As faixas ficam para outros correrem (e percorrerem de trás para a frente) como Díaz acompanhou, correndo também, o sprint longo de Manafá, até, após centro puxado, ir buscar, em meia-bicicleta, uma bola que, pelo meio da chuva e do vento, parecia indomável. Num ápice foi domesticada e até parecia ir em câmara lenta até entrar. Depois, foi a vez de a equipa endurecer a "face tática" do jogo e aguentar. O Santa Clara jogou bem, o FC Porto competiu melhor.
De Ricardo Soares a César Peixoto
Dois treinadores, duas estreias nesta jornada.
Ricardo Soares mudou o sistema do Gil Vicente (antes com defesa a "3") para montar um 4x3x3 gerido por três médios, (João Afonso a pivô e os interiores Lucas Mineiro-Claude) com visão tática posicional, mas todos curtos a subir com bola. Ganhou, no entanto, a prioridade que queria para a equipa: maior consistência defensiva, a partir do meio-campo, algo decisivo contra um Rio Ave de ataque paciente. Soltou Lino e Lourency como extremos, fez um (auto)golo cedo e guardou-o com a tal maior segurança no processo defensivo. Veremos, agora, que passos ofensivos dará na construção do seu jogar.
Gostei de ver o Moreirense, em 3x4x3, contra o Sporting. Entrou bem no jogo nos desdobramentos ofensivos. Felipe Pires na direita é um extremo perigoso. Com o decorrer do jogo, porém, o sistema foi-se encolhendo face à pressão leonina. Teve de baixar o bloco para quase um 5x4x1 e a ideia inicial deixou de poder aplicar-se. Perdeu, mas viu-se a boa intenção tática de César Peixoto. Veremos, no futuro, se a equipa (os jogadores) têm valor para a acompanhar. As experiências que teve nos clubes anteriores serão uma referência para perceber até onde poder ir na relação entre as ideias e jogadores ao dispor.