SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões.
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É normal os clubes mais ricos e poderosos "aliciarem" jogadores talentosos de outros clubes, menos fortes e endinheirados (ou com dificuldades financeiras), diretamente ou via empresários, amigos ou família?
Bem antes do prazo de 6 meses do final do contrato assinado (onde já se pode comprometer com quem entender)?
Claro que tal acontece com demasiada frequência e posso testemunhar alguns casos. Todo o mundo do futebol sabe que esse aliciamento é uma ilegalidade grave, mas muitas vezes, a maior parte dos casos, diria, as entidades reguladoras, desde as federações ou ligas nacionais à UEFA e FIFA, fingem nada saber e quase nunca ousam atuar, como seria seu dever em cumprimento das leis e regulamentos aprovados.
O caso do jovem argentino e ainda jogador do Benfica Enzo motivou acesas reacções de insatisfação do clube e do seu treinador ("estão a fazer a cabeça ao atletas", "se o querem, paguem a cláusula e pronto", e outras), perante a forma como o jogador (dito) profissional se está a comportar, violando regulamentos internos e ordens recebidas para forçar a saída, talvez instruído pelo clube interessado. O que a situação tem de nova é que um "predador" interno feroz se torna "presa" perante outro mais rico e igualmente habituado a fazer o que lhe apetece, pois nada lhe acontece. É a vida! Benfica, Porto, Sporting, Braga, os mais poderosos e prepotentes aqui na Lusitânia, já provaram o remédio e não gostaram, sobretudo da parte de jogadores que longe do termo do contrato já têm o futuro (bem) assegurado noutras partes da Europa ou Ásia. Mas isso é uma gota de água em relação ao que fazem aos "pequeninos" quando atacam quem lhes interessa, às vezes só para enfraquecer adversários ou os obrigar a ajoelhar. E vale tudo, como dinheiro vivo adiantado ou "emprestado" ao jogador, ao empresário que sele o compromisso, ao círculo próximo que o aconselha. E lá aparece o rapaz de belo carro novo, apartamento comprado e comportamentos de quem já tem a cabeça noutro sítio.
Reuniões que se fazem em discretos quartos de hotel, com intermediários para que ninguém importante suje as mãos. Acordos elaborados por bons advogados, incumprimentos com cláusulas penais elevadas, confissões de dívida leoninas. A vida é bela! Detetar estes casos é quase sempre muito fácil e os empresários a aconselham o clube a ser simpático e facilitar a saída do moço. Recordo, por exemplo, um jogador que recusou assinar por 5 anos com clube italiano, primeiro, e outro inglês de topo, com um ordenado chorudo, porque (depois confessou-o) teria que indemnizar aquele com quem tinha pré-acordo e já tinha assinado confissões de dívida de centenas de milhares de euros adiantados.
O poder do dinheiro arrasa a integridade, a honestidade e a retidão. Só se vive uma vez.
Feliz ano novo para os Enzos da vida!