PASSE DE LETRA - A opinião de Miguel Pedro, aos domingos n'O JOGO.
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O futebol português tem sido assolado por mais uma vaga de um vírus que, periodicamente, tem infetado muitos dos seus participantes, desde treinadores, jogadores, dirigentes, e outros agentes desportivos.
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Trata-se do vírus da intolerância, da agressividade gratuita, do discurso de ódio e da estupidez. Os sintomas são os mais variados: comportamentos irracionais, agressividade descontrolada, insultos gratuitos e até alucinações. Os responsáveis pela disciplina sanitária aplicam medidas sancionatórias e profiláticas, com castigos que afastam muitos dos infetados dos relvados, confinando-os para as bancadas. Mas as variantes do vírus contagiam mesmo nas bancadas, como se viu recentemente no jogo do Sporting, em Braga. Duas variantes foram detetadas pelos especialistas nas últimas semanas: a variante tripeira e a variante de Alvalade. A variante tripeira é particularmente agressiva e os infetados mostram um grande descontrolo emocional, esquecendo-se que são profissionais de um desporto que se quer nobre.
Na bancada a agressividade do vírus é maior e os infetados (dirigentes ou treinadores) denotam os seguintes sintomas: insulto, agressividade gratuita, ataques de hipocrisia...
Os sintomas mais comuns são o insulto, a difamação, a agressividade violenta e a espuma no canto da boca. O seu nível de contágio é alto e infeta mesmo fora dos estádios, com os doentes infetados a agredirem gratuitamente pessoas que só querem trabalhar. Além disso, provoca alucinações severas, que distorcem a realidade, pois os infetados com esta variante vêm grandes penalidades em todo o lado. A variante de Alvalade é de elevado contágio, afetando com grande carga vírica jogadores ou treinadores do clube infetado provenientes de outros clubes e a sua incidência é maior na bancada do que propriamente no campo. Ainda que no campo alguns dos infetados, recém-chegados ao clube infetado, mostrem ligeiros sintomas, que vão do insulto à palermice, na bancada a agressividade do vírus é maior, e os infetados (dirigentes ou treinadores) denotam os seguintes sintomas: o insulto, a agressividade gratuita, ataques de hipocrisia e o esquecimento total de qualquer sentimento de bondade ou gratidão por quem os ajudou (e muito) no passado.
Os especialistas afirmam que esta nova vaga só terminará quando for encontrado o campeão nacional deste ano, pois o ADN deste vírus é a ideia de que tudo vale para se vencer e que a nobreza do desporto é secundária e, na realidade, pouco vale. Médicos e matemáticos alertam para a necessidade urgente de uma vacinação em massa, pois novas vagas se seguirão, na próxima época, e com variantes que podem ser ainda mais perigosas. A vacinação deverá consistir numa mistura de alterações estatutárias e regulamentares, com doses maciças de bom senso, formação cívica e leituras obrigatórias.