"Os monstros precisam de amigos. Aboubakar é a prova futebolística disso"
A equipa parece fazer as coisas sempre em esforço. Aquela dupla de médios tanto segura um jogo como torna a equipa mais pesada para sair desde trás pelo meio.
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1 - Defrontar uma equipa de avançados rápidos que gostam de jogar em contra-ataque e sofrer um golo logo no início é dar-lhe o contexto perfeito para se sentir confortável. Foi o que pensei quando vi o Young Boys das setas atacantes Assalé-Nsamé marcar um golo cedo. O FC Porto ficava no território tático mais difícil. Tinha de atacar mais mas sem perder a bola em zonas que permitissem ao onze dos "pirilampos elétricos amarelos" sair rápido, apanhando a defensa portista desequilibrada.
Mesmo neste cenário, a equipa não teve, porém, medo de subir logo o ritmo de jogo, tornando-o, até, rápido demais na alternância ataque-defesa-ataque (o que poderia favorecer o tal contra-ataque adversário).
Lançando o seu 4x4x2 com uma dupla "6+8" (Danilo-Loum) de cobertura tática forte a tirar a bola e na pressão, mas limitada no início de construção (isto é, na passe de transição defesa-ataque) era obrigatória mobilidade em todo os habitantes ofensivos dos últimos 30 metros (Otávio a tentar ver linhas de passe e Corona sempre o mais perigoso na criatividade e apoio aos "carros de assalto" Marega-Aboubakar).
2 - No controlo do contra-ataque suíço, mantendo a insistência ofensiva em mobilidade, esteve a chave portista para virar o resultado. Faltava definição no remate ou no último passe, mas recuperava rapidamente a bola.
A equipa parece fazer as coisas sempre em esforço. Aquela dupla de médios tanto segura um jogo como torna a equipa mais pesada para sair desde trás pelo meio. Por isso, sem "jogo interior profundo" desde trás, este 4x4x2 portista é essencialmente de "jogo exterior" para criar perigo. Bastaram poucos instantes de Luis Díaz em campo (saindo Loum e desfazendo a dupla "pisa-papéis" do meio-campo) para isso se notar em largura e, também, se notar a diferença no meio onde passou a jogar Otávio. Na primeira bola que tocou, fez um passe mortal de rutura que abriu a clareira na área amarela para o golo.
3 - Ver Aboubakar a jogar, vindo de uma lesão tão longa, é ver um jogador em luta consigo próprio. Sente-se o seu sofrimento ansioso para ter a bola perto e para estar nos melhores locais para a apanhar perto da baliza. Quando os encontrou, explodiu. Os dois golos, sobretudo o segundo, arrepiam pela forma como foram festejados. Com ele, trazia o grito amordaçado durante mais de um ano.
Quase como respeito por essa sua raça, a equipa não teve dilemas táticos-estéticos de meter um terceiro central para, nos últimos minutos, segurar a vantagem dada por Aboubakar. Os monstros precisam de amigos. Aboubakar é a prova futebolística disso. Sérgio Conceição, toda a equipa e o banco aos pulos, soube sentir isso.