Como, apesar da companhia cada vez mais ilustre numa Seleção campeã, Ronaldo continua a ser a única história que interessa contar.
Corpo do artigo
Sim, é possível respeitar o legado de Cristiano Ronaldo sem o bajular e também se pode admirá-lo a ele e a Messi na mesma proporção sem risco de ir para o Inferno.
Convém admitir que há um lado penoso para os restantes 10/11 avos da Seleção, demasiadas vezes reduzidos a figurantes numa batalha mediática.
Não é pecado escrever que quem desatou o Hungria-Portugal não foi Cristiano (como acabou por parecer em várias capas e até no mundo) e, ao mesmo tempo, apreciar o segundo golo que marcou ou alucinar (é o termo) com a lista de recordes que o cravam na História para a eternidade.
E nada, nem esses números mitológicos, o desobriga de ser um jogador como os demais, 1/11 avos de uma equipa de futebol, em que pode haver um colega mais dotado, por exemplo, para os livres diretos. Isso devia poder ser dito sem provocar uma avalanche de aplausos e outra de insultos. Entre uns e outros, há uma infinitude de reações razoáveis. Nem o ódio nem a devoção incondicional são boas ideias, sobretudo por não serem práticas, embora figuras com índices de popularidade (acho que se diz assim) tão altos não consigam fugir nem a uns, nem a outros.
Mas convém admitir que há um lado penoso para os restantes 10/11 avos da Seleção, demasiadas vezes reduzidos a figurantes nessa batalha mediática. Vai-se notando mais à medida em que o grupo se enche de jogadores credenciados na Europa. Anteontem, desenrolaram-se duas histórias em Budapeste. Uma foi a dos cinco minutos de Ronaldo, a outra foi a dos 85 minutos em que ele não conseguiu ser (e tem direito, isso não o belisca) o melhor, nem o segundo melhor, nem o terceiro melhor elemento da Seleção. D
Devíamos ser capazes de contar essas duas histórias em simultâneo, sem deixar nenhuma ofuscar a outra, e nem me refiro especialmente à Imprensa portuguesa. No Estádio Puskas jogou a equipa campeã da Europa e os principais meios de comunicação internacionais só viram, ou só quiseram ver, cinco minutos.