A narrativa da cultura tóxica de um clube (sempre a escorregar para a região...) choca de frente com o óbvio e volumoso cadastro de Sporting e Benfica, incluindo o disciplinar, da FPF.
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A zaragata do Benfica-Sporting de anteontem, nas meias-finais do campeonato de hóquei, teria uma importância relativa para quem sabe o que esperar do desporto, se não fosse o discurso concertado sobre culturas tóxicas de clubes que tem dominado a agenda. Desde 2015, houve pelo menos 15 episódios de violência ou provocações nos dérbis de Lisboa, entre hóquei, futsal e futebol de 11.
Contei quatro incidentes de agressões entre jogadores, dois incidentes de agressão a adeptos, incluindo uma tentativa de atropelamento, uma agressão de um futsalista do Sporting (Cardinal) a um treinador, um ataque ao banco do Benfica, uma acusação de agressões pelas claques do Sporting a miúdos do União Juventude de Alverca, que tinham ido ao João Rocha assistir ao dérbi de andebol, e o impedimento do acesso ao pavilhão, pela PSP, de 37 adeptos do Benfica por convicção de que haviam planeado desacatos.
Há outros episódios irrelevantes, como um pirete de uma futebolista do Sporting para o banco do Benfica ou uma mão nos genitais de Tiago Dantas (cedido pelo Benfica ao Tondela) diante dos adeptos do Sporting. E isto circunscrevendo-me aos jogos e às tricas entre os dois clubes. Houve um espancamento com consequências muito graves, um homicídio e vários casos envolvendo outras entidades, incluindo a vandalização do estádio do V. Guimarães por adeptos do Benfica, só nestes sete anos.
Existem, claro, os registos disciplinares do futebol profissional: o FC Porto pagou, esta época, multas de 105 mil euros por comportamento incorreto do público, o Benfica 143 mil euros e o Sporting 211 mil euros. Por comportamento incorreto dos jogadores: FC Porto, 8 mil euros; Benfica, 10 mil euros; Sporting, 14 mil euros. Dos dirigentes e treinadores: FC Porto, 33 mil euros; Benfica, 25 mil euros; Sporting, 18 mil euros.
Tirando esta última frase, é evidente que nada disto bate certo com a estupidez do que se tem dito sobre "culturas" de clubes e, em particular, sobre os portuenses e sobre a cidade do Porto, a que um jornalista com responsabilidades chegou ao ponto de chamar Palermo. Lamento, mas a isto chama-se manipulação.