PLANETA DO FUTEBOL - A análise detalhada de Luís Freitas Lobo.
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1 - Para além de ganhar, aos treinadores exige-se que melhorem os jogadores que treinam. Uma das coisas que mais custa ver é um treinador "desistir" dum jogador. Sobretudo quando isso significa desperdício de talento.
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É, então, comum dizer que o problema é do jogador que "não tem cabeça". Pois, muitas vezes, o que faria a diferença seria o treinador ser capaz de dar-lhe essa "cabeça". Tal traduz-se, tantas vezes, em ensiná-lo a usar as suas potencialidades com fundamentos de jogo.
Otávio e Taarabt são, à partida, casos diferentes. O primeiro era um criativo intempestivo mas com limitações tácticas sem bola. O segundo era um artista temperamental que achava que o resto da equipa não o entendia. Hoje, estão os dois convertidos à equipa sem perder a essência inicial.
2 - Ver Otávio como "capitão" da equipa portista na Grécia foi mais um factor de crescimento que começou no seu futebol e findou nesse estatuto adquirido. É o maior trabalho de valorização táctico-técnica (e mental) feito por Conceição nestes anos no Porto.
Se com Marega "limitou-se" a aproveitar a sua natureza, com Otávio "alterou" a sua natureza sem a destruir. Nada se perde, tudo se transforma. Otávio usa as mesmas armas criativas mas acrescentou-lhe sentido de organização. Porque é muito diferente ser um médio-centro ofensivo criativo de um médio-centro... organizador. É muito comum confundir as duas coisas. Otávio junta os dois traços (fazendo mover sistemas, do 4x4x2 ao 4x3x3 e vice-versa, com a facilidade com que joga no meio ou desde a ala) e quando não tem a bola, sabe que o jogo... continua.
De Taarabt a Otávio: como um treinador deve perceber que a evolução dum jogador está em passar a fazer os passes que antes gostava de receber
3 - O "novo Taarabt" é uma obra recente de outro treinador: Bruno Lage. Ao contrário do que todos diziam, percebeu que o problema não era de base temperamental mas sim de aprender a desfrutar do jogo doutra forma. O próprio Taarabt confessa-o quando diz que "os passes que agora faço são os passes que antes gostava de receber". Fala disso satisfeito. Percebeu que sabia ler o jogo e não só ficar como um n.º 10 à espera que lhe metessem a bola.
Tal como com Otávio, tudo se resume a "deixei de jogar para mim e passei a jogar para a equipa". Ao recuar no terreno, a tendência natural é ver-se "mais campo". Taarabat percebeu esse automático aumento de visão periférica.
Jesus, que o recebeu a seguir, encontrou esse "Taarabt novo". Neste caso, nem se lhe pede que o melhore. "Só" que deixe essa transformação continuar a jogar. Vendo como o marroquino passou, usando termos "técnicos", dum "farol em movimento" para um "pirilampo que acende e apaga" percebemos como tudo (como estas metafóricas definições) vai sempre terminar no essencial "conhece-te a ti próprio".