PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Em quantas posições pode jogar um jogador? Muitas vezes, a resposta a esta questão nem está tanto relacionado com dúvidas individuais mas sim com dilemas do ponto de vista coletivo.
Penso nisso vendo como Renato Sanches vagueou por entre o meio-campo (colocação tática do onze) de Portugal. Desde aberto na direita com tarefas de ligar setores, até jogar como médio mais adiantado (diferente de ofensivo), de um losango que sente sempre uma "perna torta", até jogar mais atrás, segurando uma posição nº 8 quando a recomposição global/colectiva do onze levou a que o nosso nº 6 trinco (ou pivot) de referência tivesse recuado para defesa-central.
Eu sei que é um jogo particular e este tipo de ensaios serve sempre para muitas experiências. Mas, mesmo assim, olho para a Seleção neste momento e vejo mais dúvidas do que seria suposto ter face às certezas que estes jogadores (suas rotinas posicionais) deviam garantir. Quando vejo Danilo recuar para defesa-central, até fico descansado porque ele vai aguentar bem a posição. Mas a diferença é que vejo isso como uma necessidade e não como uma opção de raiz, porque, a ser assim, perdemos o nosso melhor elemento nessa posição taticamente mais importante do futebol moderno, à frente da defesa.
Eu sei que existe o Rúben Neves e o Palhinha, mas a nível de especialização, o Danilo nunca pode ser visto como possível solução a central e, com isso, abrir um problema na posição nº 6. É por esta simples razão (pensar no pior que nos pode acontecer) que não entendo o facto de Fernando Santos só levar três centrais. Pensar em ter que colocar o nosso melhor nº 6 equilibrador a central assusta-me,
2 Quanto ao Renato Sanches, é diferente. Começou aberto na direita (meia-direita), como jogou e foi campeão no Lille, mas, ao mudar tanto de posição ao longo do jogo (de interior mais adiantada ou atrás), a conclusão que tiro pensando no onze para começar o Euro é simples: não vai jogar em nenhuma e não fará, assim, parte do onze inicial.
Estes jogos particulares são, essencialmente, ensaios e experiências táticas, mas a tão poucos dias do início do Euro e tendo já tantas certezas posicionais sobre tantos jogos, custa-me entender que Fernando Samos faça tantas mudanças e experiências.
A nossa seleção é um bloco definido. A única questão é encaixar ou não (e como) Bruno Fernandes. Nesse sentido, este jogo com a Espanha foi um ensaio perdido. Vejo-o como o nº 10 que precisamos. Não nos vejo a jogar em 4x4x2 com Félix contra a Alemanha e França. Precisávamos do melhor Bruno de Manchester neste jogo com a Espanha, para o ensaio ideal disso. Não percebo porque Santos em vez disso, preferiu a vagabundagem de Reato Sanches.
O festejo estranho
A mesma equipa que tanto seduzira nos jogos anteriores, venceu a Espanha sem ter vontade de festejar muito no fim. O onze espanhol tinha jogado mais e criado muitas oportunidade mas, perto fim, num contra-ataque, acabamos por marcar num autogolo e ganhar. Rui Jorge reconheceu-o e viu-se logo como, no fim, cumprimentou o selecionador espanhol. Até na forma de sentir o jogo e a vitória (entenda-se como se ganha), esta Seleção sub-21 não se parece mesmo com nada no futebol português.