Olhando a sério para os jovens valores
<strong>TÁTICA DO PROFESSOR - "</strong>Mais um ano e, de novo, um grande número de atletas estrangeiros a entrar em Portugal, a grande fatia vinda do Brasil. É uma realidade que não se altera, porque não há vontade para isso"
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1 - Com o aproximar do início da nova época, os plantéis começam a ficar completos e vão chegando os novos jogadores, escolhidos, naturalmente, pelos treinadores em sintonia com as Direções dos clubes e de acordo com os orçamentos estabelecidos. Mais um ano e, de novo, um grande número de atletas estrangeiros a entrar em Portugal, a grande fatia vinda do Brasil. É uma realidade que não se altera, porque não há vontade para isso, porque em causa está também o aproveitamento que (não) se faz dos jovens futebolistas, isto sem pôr em causa nem a opção pelos jogadores estrangeiros, nem a sua qualidade, embora saibamos que há muitas apostas que saem furadas, ou porque a adaptação a um futebol diferente daquele a que estão habituados não corre bem, ou simplesmente porque foi feita uma má avaliação e a qualidade do jogador contratado acaba por não se confirmar. A FPF criou na última temporada uma nova competição, a Liga Revelação, destinada a jogadores que tenham até 23 anos de idade. É uma oportunidade para as equipas colocarem em competição jogadores que, sem isso, seriam excedentários. Há ainda as equipas B, que participam nas competições profissionais mas que até acabam por se confundir com as equipas da Liga Revelação. Estas competições são boas, são salutares, são oportunidades para os jovens futebolistas.
A questão é: que aproveitamento fazem os clubes desses jovens valores? Na época de estreia foi o Aves que venceu a competição, quando o expectável seria que fosse o Benfica ou o Sporting. Porque é que ganhou o Aves? Se calhar porque canalizou todos os seus jovens valores para essas equipas e não teve de dispersá-los pelas equipas B, como fez o Benfica, por exemplo.
2 - Outra questão curiosa está em perceber porque desceram as equipas B do Braga e do V. Guimarães... Houve um desinvestimento, não se deu importância à competição e às equipas em si? Que aproveitamento fizeram os dois clubes dos jogadores que andaram a competir toda a época num campeonato profissional? Eu acho que a Federação esteve muito bem ao abrir uma nova competição, mas paralelamente devia ser feito um protocolo entre as equipas, a Federação e a Liga de Clubes para se fazer uma espécie de "draft", criar uma comissão de avaliação das qualidades dos jogadores, de modo a que pudessem no futuro ser aproveitados para as equipas-mãe ou para serem cedidos a outras equipas dos campeonatos profissionais. Seria uma forma mais de motivar jovens futebolistas, de lhes fazer sentir que têm o futuro na mão e que não serão abandonados na hora de seguirem com a carreira.
Num país onde os escalões de formação têm conseguido vitórias muito importantes, conquistando o mundo através desses triunfos, bem como o respeito e a admiração de todos, julgo que essa espécie de "draft" seria uma maneira de valorizar ainda mais o jogador português e de valorizar os projetos, para que não seja apenas mais uma criação "porque sim", como é o caso da Liga Revelação. Com abertura das fronteiras, até nos escalões de formação entram jogadores estrangeiros, mas não vem mal ao mundo por isso. Isto se se der a mão a esses jovens valores, evitando que se percam carreiras que podem vir a ser de sucesso.