O VAR veio deixar a nu zonas cinzentas com que, agora, é preciso lidar
<em><strong>FORA DA CAIXA</strong></em> - Joel Neto comenta a influência do videoárbitro no futebol atual e o momento de solidariedade dos jogadores do Nacional para com o treinador Costinha.
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TODOS OS DIAS
A caminho do grau zero
Ouço cada vez mais comentadores de TV, sempre menos críticos daquilo em que a FIFA quer transformar o futebol do que da mera circunstância de um erro de arbitragem, dizerem que "é muito difícil julgar a intenção". Dizem-no porque se vão tentando tornar eles próprios autómatos, conscientes de que até a ideia de análise está em risco: as máquinas tomarão conta de tudo, inutilizando a avaliação subjetiva.
É daqui que vêm estas novas medidas do International Board segundo as quais - leio - "golos como o de Llorente frente ao City" deixarão na próxima época de ser legais. E lamento-as. São mais um passo para a transformação do futebol num videogame, circunscrito a um ecrã e em que é a máquina a tomar todas as decisões.
No meu futebol, as intenções são difíceis de julgar e por isso se torna tão importante fazê-lo
No meu futebol, as intenções são difíceis de julgar e por isso se torna tão importante fazê-lo: porque se trata de lidar com coisas difíceis. Pelo contrário, o VAR veio deixar a nu zonas cinzentas com que, agora, é preciso lidar. E, em vez de almofadarmos esses imprevistos nos regulamentos, deixando ao menos um resto à perspicácia humana - e à sua falibilidade, que bela é a falibilidade humana -, limamos mais umas quantas arestas.
Restam cada vez menos. Um dia vamos arrepender-nos.
PELO CONTRÁRIO
Da Madeira com amor
O momento em que os capitães do Nacional invadem a conferência de Costinha é um dos mais comoventes de que tenho memória no futebol português. Ainda por cima num dia em que uma tão pungente névoa de tristeza se abatia sobre a Madeira.
Há ali homens. Os jogadores - insisto - ainda são o melhor disto tudo.