O VAR não erradicou a dúvida inerente ao futebol
Um dos efeitos mais evidentes é a descaracterização do papel do árbitro principal. Antes, a sua autoridade e capacidade interpretativa eram soberanas; hoje, são frequentemente postas em causa por revisões externas e discussões intermináveis
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VAR sim, VAR não
O advento do VAR foi recebido com promissora expectativa no mundo do futebol. Apresentado como ferramenta capaz de aproximar o desporto da verdade, rapidamente se tornou alvo de debates acesos. A promessa de justiça absoluta, promovida por "inteligências supremas", esbarra frequentemente na realidade: a sua aplicação é desigual entre competições e, sobretudo, depende da subjetividade humana. Apesar da sofisticação tecnológica, o VAR não erradicou a dúvida inerente ao futebol, pois o seu funcionamento, exercido por operadores humanos, mantém o risco de decisões controversas. A natureza interpretativa do jogo, longe de ser eliminada, ganhou novos contornos. Agora, além do julgamento em campo, discute-se também a decisão tomada (ou não) perante as imagens revistas.
Um dos efeitos mais evidentes é a descaracterização do papel do árbitro principal. Antes, a sua autoridade e capacidade interpretativa eram soberanas; hoje, são frequentemente postas em causa por revisões externas e discussões intermináveis. Este fenómeno estende-se a analistas, jornalistas e adeptos, que se veem constantemente a debater decisões mais do que o próprio jogo jogado. A essência do futebol, feita de emoção e controvérsia, tornou-se refém da obsessão pela decisão "correta".
O episódio recente na Taça de Portugal, entre C.F. "Os Belenenses" e G.D. Estoril Praia, ilustra bem esta problemática. Aos 25"14", o Estoril beneficiou de um penálti controverso, que resultou no primeiro golo do encontro. O lance, "mais falso que Judas", diga-se, envolveu uma manobra de André Lacximicant que, ao enfrentar o guarda-redes, simulou um contacto ao arrastar o pé, levando o árbitro a assinalar a falta.
