É um campeonato histórico por assumir o que toda a gente sabe. O adepto peregrino, que se faz à estrada, não conta nas grandes decisões.
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1 - Arranca esta sexta-feira, com um ano de atraso, um Europeu histórico - e não lhe chamo assim por ser o primeiro a jogar-se em onze cidades de países diferentes.
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Tornou-se histórico por ser o primeiro a assumir com frontalidade aquilo que todos intuímos há muitos anos: o adepto tradicional, aquele que rapa o mealheiro para seguir clubes e seleções mundo fora, o mais apaixonado de todos os adeptos, vale menos que zero no futebol.
É uma criatura sem direitos, que existe apenas para ser sugada, desta vez multiplicando as despesas em viagens e logística, agravados ainda pela pandemia (que a UEFA podia ter usado como desculpa para improvisar uma fórmula mais amigável, mas não quis). Mais do que qualquer outro, será o Europeu dos escravos da paixão, uma plebe insignificante de que o futebol engravatado nem chega a tomar conhecimento. Conheci-os em 1998, quando acompanhava o Brasil no Mundial de França e me entretinha a conversar com os adeptos. Alguns haviam cortado uma refeição diária durante dois anos para lá estar. Outros nem bilhetes tinham: só fé. Mas a fé não paga Jaguares.
2 - Tem lógica. A resposta de Vieira à acusação de que se serve do Benfica vem na forma de um comunicado do clube, com certeza redigido por funcionários pagos pelo clube, divulgado nas plataformas do clube e sem assinatura do presidente (que era o único visado). Um sócio processa Vieira, mas quem se defende é o Benfica, como se fossem uma só entidade. O autor da ação não podia esperar uma resposta mais útil. Quanto à bondade das alegações, o que esperava Vieira? Que todo o universo benfiquista fechasse os olhos às suspeitas da OPA, aos acontecimentos da última época e às revelações da Comissão de Inquérito ao Novo Banco, sem lhes ser dada qualquer explicação?