Insistir na tese dos "melhores do mundo" é tapar os olhos e os ouvidos. Como os brasileiros.
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José Mourinho não acha que os treinadores portugueses sejam os melhores do mundo: "A qualidade não tem a ver com a nacionalidade." No meio do festival Jorge Jesus e da indignação lusitana com o tratamento recebido no Brasil pelo "mestre da tática", tentei demonstrar há uns dias que Portugal não é assim tão diferente, e nada o prova com tanta eficácia como a leviandade dessa assunção, já escrita na pedra, de que os treinadores portugueses são os melhores do mundo, ou seja, de que todos os outros são piores.
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Extirpadas as subjetividades, o que podemos dizer é isto: a) hoje, os treinadores portugueses de futebol são muitos e, em geral, com perfil académico; b) nos últimos vinte anos, formou-se uma cadeia de contágio de conhecimentos, através das equipas técnicas, observadores e analistas, que saltam de treinador principal para treinador principal e pelas academias dos clubes, criando um bolo de métodos, práticas e informações que acaba por ser comum a quase todos; c) uma mão-cheia deles (e não dúzias) obteve resultados cristalinos que os colocam entre os 20 ou 30 mais qualificados do mundo; d) essa sabedoria gerada reentra no círculo virtuoso do tal contágio e melhora, de alguma forma, a boa preparação do "treinador português". Jorge Jesus nem sequer encaixa neste perfil comum, porque vem da pré-história e não usufrui grande coisa desse bolo; quando muito, contribui involuntariamente para ele.
Mas tudo isto é bom, desde que se perceba (e acho que, no momento, não se percebe) que há um mundo inteiro de novas ideias fora do circuito fechado do "treinador português". Os brasileiros também desconheciam que pudesse haver um Jesus fora do circuito deles.
