PLANETA DO FUTEBOL - A opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Analisar um jogo supõe desvendar coisas que os jogadores expressam a partir de planos na origem escondidos pelo treinador.
Quatro (ou seis) momentos do jogo são poucos para desvendar o que se passa em campo. Se o talento é outro momento, então, sabem quantos existem?
Aos quatro grandes momentos do jogo (organização defensiva e ofensiva, mais as respectivas transições entre eles) podem-se colar muitos outros "sub-momentos". As "contra-transições", quando uma equipa trava logo na origem (em geral em zonas muito subidas) o início da transição defesa-ataque adversária, até, no limite, reconhecerem-se outros momentos do jogo para além daqueles quatro "macro", como as bolas paradas ("esquemas tácticos") ou, como Sérgio Conceição lançou para cima da "mesa relvada de debate", o momento do... talento do jogador.
Já iríamos assim em seis momentos. As pausas no jogo podiam ser outro. Mesmo que fossem apenas para um jogador quando a bola está longe. O que pensa um jogador quando a bola está num local oposto ao dele? Esse seu pensamento podia ser um "sétimo momento".
Todos os jogadores em campo são, a cada instante, donos dos momentos
2 - O futebol, o jogo e os jogadores têm obrigação de se darem bem uns com os outros. Por isso, o sexto momento de Conceição pode, no jogo, expressar-se em... vinte e dois momentos. Ou seja, os momentos individualizados em que cada jogador em campo expressa, nas jogadas, o seu talento no jogo.
Há a expressão máxima do talento do elo de ligação jogo-golo, mas existe também, por exemplo, a expressão do "talento defensivo" (um corte, um desarme, a intercepção duma linha de passe mortal), a expressão do "talento do passe" (as assistências e que chamo "passe para golo" ou um passe vertical que, por si só, "queima várias linhas de pressão") até à expressão do "talento da finta" (o lance "um-para-um" que abre as marcações mais cerradas).
Todos os jogadores em campo são, a cada instante, donos desses momentos (que vivem pelos princípios e dentro dos momentos-macro mas parecendo terem existência própria e, no limite, até subversiva).
3 - A posição, missão, estilo e características individuais de cada jogador fazem esse momento. Como isto funciona melhor com exemplos, distingo dois. Em Marega, consciente de como a natureza genética foi muscularmente generosa com ele, o poder de explosão após conquistar, com visão inteligente de movimentação, a desmarcação na profundidade. Em Rafa, sabedor do seu poder de "zig-zag", invadindo espaços com a morfológica "roda-baixa" que lhe permite esquivar-se melhor ao choque e sair sempre por um buraco (o "perfil rato") na parede defensiva adversária.
O futebol tanto pode ser atraente para quem o vê como exigente para quem o joga, mas, que ninguém duvide, quem faz sempre os seus melhores momentos são os jogadores mais.. inteligentes.