O desfecho do Belenenses-Benfica terá um impacto sério, por exemplo, nos critérios de desempate
Corpo do artigo
Lamento, sobretudo, pela humilhação de nove homens, nove futebolistas que tentaram honrar um emblema, a sua carreira e a profissão. Se este Belenenses SAD-Benfica se devia ter ou não realizado será assunto de apaixonadas discussões nos próximos dias. Mas o desfecho do mesmo, que terá impacto sério, por exemplo, nos critérios de desempate, servirá de argumento à laia de espadachim, enquanto qualquer noção de sensatez, das que passam mais pelo fervor do que pela razão, travestirá a apregoada dignidade desportiva, mesmo que se prove por a+b que um e um são dois.
Facto: era da competência do Belenenses solicitar o adiamento do jogo, partindo do princípio, atempado, que o surto afetaria elementos importantes e habituais titulares. Se o tivesse feito, poder-se-ia dizer que tudo fez para não ter que, em cumprimento das regras do futebol, tentar ir a jogo com tantos jogadores como o adversário. Mas não o fez.
Claro que uma coisa seria a solicitação, outra coisa seria o Benfica aceitar ou negar o adiamento, argumentando, neste caso - o que seria válido e legítimo - com o apertado calendário que tem nas várias frentes competitivas. Até podia não haver acordo, até podia a Liga não se impor e deixar andar ao sabor dos regulamentos, até podia ter que se realizar o jogo nas circunstâncias em que se realizou. Mas, se a SAD belenense tivesse pedido o adiamento, perceber-se-ia que tentou proteger os seus interesses. Facto é que Rui Pedro Soares, presidente dos azuis, veio a público confirmar que não o fez. E não se percebe porquê.
A integridade da competição e a dignidade desportiva foram maltratadas. A dos vencidos e dos vencedores, se estivermos a falar apenas dos jogadores. E, convenhamos, a ausência de decisão da autoridade sanitária também parece questionável. E quando é questionável, exige-se clarificação e esclarecimento. Não se percebeu a opção de Rui Pedro Soares e não se percebeu a decisão da delegacia de Saúde. Percebeu-se, sim, que foi vergonhoso.