Paulo Faria escreve sobre mais um excelente fim de semana para o andebol português
Como é possível o FC Porto jogar de igual para igual com as melhores equipas do mundo e, em alguns jogos, até se superiorizar com estrondo? Como é possível o Sporting, pelo terceiro ano consecutivo, estar a ter um comportamento exemplar na Liga dos Campeões? Como é possível termos Benfica, Madeira SAD e ainda Sports Madeira e SIR 1.º de Maio no feminino apurados para as fases seguintes das respetivas competições europeias? Como é possível, a nível de seleções, estarmos apurados para tudo?
Estes resultados são muito importantes para o nosso andebol, uma vez que têm impacto direto na imprensa e nas televisões e aí tenho que realçar a coragem e, ao mesmo tempo, dar o meu reconhecimento ao Jornal O JOGO por, pela mão do seu diretor, José Manuel Ribeiro, trazer para a 1ª pagina este momento do nosso andebol, com a entrevista ao Magnus Andersson.
Acho, sinceramente, que os treinadores portugueses são tão bons ou até melhores do que o Magnus Andersson ou o Thierry Anti, e muito melhores que Filip Jicha, treinador do Kiel, e do que Patrice Canayer, técnico do Montpellier, sendo que este cometeu um erro infantil e de qualidade duvidosa como treinador ao mandar fazer marcação individual a dois jogadores do FC Porto, Fábio Magalhães e ao central, quando estava a defender em inferioridade numérica. Não tenho, por isso, dúvidas que de que Ricardo Costa, Jorge Rito, Carlos Resende, Paulo Jorge Pereira ou Paulo Fidalgo fariam muito melhor que Jicha ou Canayer.
O destaque vai, naturalmente, para o FC Porto de Magnus Andersson, que tem tido uma regularidade impressionante nesta sua terceira participação na Liga dos Campeões e jogado de igual para igual, muitas vezes até se superiorizando, aos adversários.
Gosto, e aprecio, duas características neste FC Porto e neste treinador:
1.º) a utilização de todos os jogadores em qualquer momento do jogo. Isto é, pode utilizar qualquer jogador nos minutos iniciais, pode esse jogador nem participar na partida, ou pode esse mesmo jogador entrar nos últimos minutos para decidir.
2º) a visível preparação diferenciada (estratégia) para cada jogo.
A defesa 6x0 do FC Porto tem sido a mais valia para a construção dos seus resultados, com Thomas Bauer e Alfredo Quintana em lugar de destaque e, ofensivamente, o modelo de jogo está trabalhado e reconhecido pelos jogadores.
Quem percebe de andebol e assistiu já a vários jogos do FC Porto sabe como a equipa joga e o que vai acontecer, mas o que tem que se entender é que o FC Porto joga com as mesmas ações ofensivas mas com a particularidade de apenas no momento final os jogadores escolherem a melhor opção nas diferentes variáveis.
Esta "autonomia" responsável e consciente que Magnus Andersson delega nos jogadores permite potenciá-los e extrair o máximo deles, como são exemplos Rui Silva, Victor Iturriza ou Yoan Balasquez. Com esta forma de agir, o sueco prova que sabe muito de andebol e, essencialmente, que sabe perfeitamente o que está a fazer.
O Sporting está pelo terceiro ano consecutivo na Liga dos Campeões e se com o Hugo Canela teve duas prestações muito positivas, com Thierry Anti só depende de si para se apurar para os oitavos de final e voltar a por o clube no patamar mais alto do andebol europeu.
Benfica e Madeira também de parabéns
FC Porto e Sporting merecem o destaque porque são também as melhores equipas portuguesas da atualidade, são conjuntos que estão com um ritmo de jogo impressionante, mas Benfica e Madeira SAD estão também de parabéns pelo apuramento para a fase seguinte, os encarnados entrando pela segunda vez na fase de grupos da Taça EHF, e os insulares seguindo em frente na Taça Challenge, embora ambos tenham ser mais regulares e consistentes a nível nacional.
No Benfica o plantel não é suficiente para disputar o titulo nacional, havendo efetivos desequilíbrios na sua primeira linha, mas conseguiu, mesmo no limite, o apuramento para a fase de grupos da Taça EHF.
O Madeira SAD, indiscutivelmente o quarto plantel no Campeonato Nacional da I divisão, passou aos oitavos de final da Taça Challenge, mas, incompreensivelmente, não consegue estar na disputa do terceiro lugar com o Benfica. Acredito, no entanto, e não estando por dentro das dificuldades do dia a dia, que Paulo Fidalgo e o seu plantel têm condições para concluir o campeonato em terceiro ou quarto lugar.
