PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 - O assumir de Jesus da incapacidade do Benfica em controlar jogos quando os está a ganhar é uma afirmação que, neste final da época, diz mais do modelo de jogo do treinador do que das capacidades táticas dos jogadores.
O que pensa mesmo Jesus da capacidade tática do seu atual Benfica? Como Carvalhal está a recuperar o melhor dos seus... melhores jogadores?
No fundo, é uma afirmação que faz voltar tudo ao princípio, ao seu conceito de "equipa partida" para atacar melhor. E, com efeito, assim é. O Benfica joga bem quando domina os jogos porque nessa fase consegue-o ter sempre no momento ofensivo. O problema é a outra face do jogo partido, quando deixa de dominar, ou apenas, na alternância de transições do jogo, deixa de atacar. Isto sempre sucedeu nas equipas de Jesus. Mesmo nas melhores. Não se notava tanto porque dominava e atacava mais. Agora, com os problemas de qualidade (ou quantidade qualitativa) dos jogadores do seu meio-campo a dois, o jogo parte-se para o lado escuro defensivo vezes demais e a equipa acaba descontrolada (e o jogo para ela).
2 - O jogo com o Braga pode tornar este facto tático evidente. Tudo depende, claro, também do curso do resultado (que dita o que uma equipa tem de fazer obrigatoriamente no jogo) mas vendo a forma como o Benfica (a ganhar desde cedo) jogou em expectativa e contra-ataque contra o FC Porto, tal revela uma consciência da realidade por parte de Jesus em relação às capacidades táticas da sua equipa. Mesmo que não o tivesse então admitido, as afirmações que agora tem sobre "incapacidade de controlar o jogo a ganhar", acabam por ser como uma confissão duma nova intencionalidade estratégica.
O Braga chega à final tentando recuperar o melhor dos seus jogadores que queimaram na fase mais intensa da época. Já o tentou mudando o sistema e recuou. Não era por aí. A solução está sempre nos jogadores. Não à frente do sistema, mas em paralelo com o sistema.
3 - A melhor forma para recuperar jogadores nestas situações é deixá-los respirar algum tempo e mais do que taticamente, trabalhar mentalmente o lado motivacional para este voltar a puxar pela corda da qualidade de jogo. Como dizia Carvalhal no seu mestrado, recuperar é muitíssimo mais do que só... recuperar. O sistema nervoso central de que tanto fala adquire um papel tão importante como o tático para reativar os seus melhores jogadores. Nunca teve problemas de jogo partido. Só teve de jogo adormecido. São coisas diferentes. Em vez de problemas de conceito ou modelo, problemas de desgaste físico-mental (para além das lesões).
Para ficar a ganhar, dominar é importante mas para depois o saber gerir, a noção de controlo é quase uma ironia que pode contradizer a equipa que mais esteve por cima de outra no jogo. Pode é não ter sido pelo tempo (e eficácia) suficiente.
Cada jogador, uma razão
A convocatória de Fernando Santos para o Europeu tem muito da confiança pessoal em muitos jogadores (como Danilo, que vê como médio mas que confia tanto também como central que só leva três para esta posição), a preferência pelo estilo de jogo que lhes garante especificamente (o caso de William Carvalho, que pouco jogou no Bétis, mas é o n.º 8 de condução que vê a fazer o que realmente quer) e o chamado "feeling" para chamar quem antes nunca fora à seleção (o caso de Pedro Gonçalves, o jogador do momento).
As opções de Fernando Santos na especificidade dos jogadores
Não acredito que esteja a pensar em inventar nada em termos dos sistemas de jogo com que a seleção já jogou, mas existem novas variantes de movimentações que podem surgir destes novos elementos. Não é fácil. Em 2018, imaginou-se muito de Bruno Fernandes mas logo se percebeu que o "transfer" do seu nível de jogo do Sporting para a seleção nunca seria imediato.
Esta seleção já é hoje tanto do Ronaldo como do... Jota. Cada jogador tem um mundo dentro de si. A importância (como a lenda do Éder conta) pode surgir dos locais mais improváveis.