VISTO DO SOFÁ - Opinião de Álvaro Magalhães
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Artur Jorge dizia que costumava ver futebol com som de música clássica, o que rimava com a sua aura de intelectual, mas não terá sido a coisa mais inteligente que disse. Música clássica é ruído para quem quer ver futebol e futebol é ruído para quem quer ouvir música clássica. E é pena que a receita não funcione, pois estamos mesmo a precisar de um modo de sobreviver à tagarelice ruidosa que são as narrações e os comentários dos jogos. Uma coisa é maquilhar o drama, enfatizar a riqueza do argumento, outra é tagarelar em cima do acontecimento, produzindo ruído.
A narração do jogo é sempre redundante, pois narra o que estamos a ver. E assenta num amontoado de lugares comuns, que funcionam como bordões imprescindíveis do narrador. Da primeira vez que alguém disse que um jogador “levou longe demais o seus esforço” ou que uma equipa “tem de correr atrás do prejuízo”, isso deve ter soado tão bem que passou a ser de uso comum. Agora, os nossos ouvidos gemem de cada vez que as ouvem.