PLANETA DO FUTEBOL - A análise de Luís Freitas Lobo.
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1 - O objetivo de qualquer organização coletiva é melhorar o rendimento individual de cada jogador. A noção deste princípio, renunciando à ideia contrária (tantas vezes repetida) da importância de o "jogador se sacrificar pela equipa", é fundamental para a convivência saudável (e eficaz) das ideias do treinador e das características dos jogadores.
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Ouço falar Sérgio Conceição na importância de os avançados defenderem (o "sacrifício" pedido a Nakajima e como Otávio faz isso sem penar), ou como Jesus olha sempre para o seu trinco a partir da dimensão física posicional que lhe dá no jogo (desde o primeiro "Javi García" até à forma como quer "engrossar" o jogo de Weigl).
Percebo a(s) ideia(s), mas muitas vezes penso que falta a correta explicação da sua ordem. Ou seja, no fundo o que ambos os treinadores procuram é uma organização que proteja a equipa, uma estrutura em que ela se sinta segura e à qual possa rapidamente voltar quando perde a bola (e posicionar-se atrás da linha da bola). Se, com isso, há jogadores (um que seja) que deixam de poder mostrar os seus pontos fortes, é porque algo está errado nessa organização.
Um bom exemplo? Como Otávio cumpre esse "momento de sacrifício" coletivo sem perder, recuperada a bola, a liberdade para criar (na faixa ou no interior) ofensivamente. É a liberdade dentro de uma (boa) organização. Não é fácil, porém, conseguir este equilíbrio e, em muitas casos, os jogadores ficam mesmo presos pela disciplina tática e, assim (volto à primeira frase do texto), a organização não cumpre o seu papel.
2 - O Sporting conseguiu vender Acuña. Não vejo outra forma de descrever fielmente, numa frase, o fim deste intrigante processo que colocou na porta da saída (a treinar sozinho) um dos jogadores mais influentes da equipa (para a sua organização, carácter e dinâmica, de ação e reação). Falar do valor do negócio ainda intriga mais.
Devo dizer que gosto da ideia de jogo do Sporting e de muitos dos (novos) jogadores que vão desenhando o seu onze-base, mas quando um jogador como Acuña deixa de fazer sentido, é porque o pensamento de construção não respeitou a tal base de montar uma organização (de jogo) para potenciar o máximo rendimento de todos os seus jogadores. O sistema nunca será um problema nesta equação (e o 3x4x3 até estaria no "encaixe" de Acuña).
Quando chega a hora de ganhar os jogos mais difíceis, o treinador, no banco, não consegue "pintar quadros". Nessa altura, a organização só lhe servirá para suportar e garantir que o talento do jogador possa aparecer no local certo e resolver. Depois disso, ele pode novamente respirar e ser elevado pela crítica como um "iluminado da tática".
Duplo pivô: "1+1 = 0,5"?
O futebol e a matemática nunca foram grandes amigos, pelo que, por vezes, quando a um bom pivô n.º 6 se junta outro pivô, isso tira capacidades à equipa, porque diminui as do pivô que a sabe ordenar. Ele perde amplitude de visão de jogo periférica. Assim, a soma dum jogador mais outro não são dois, mas sim "meio". Estranho? É futebol!
O FC Porto que concilia Danilo com Uribe e Sérgio Oliveira, fazendo subir um pouco mais um destes, como n.º 8 que sai para o jogo, é um exemplo dessa boa complementaridade tático-matemática.
O FC Porto que concilia Danilo com Uribe e Sérgio Oliveira, fazendo subir um pouco mais um destes, como n.º 8 que sai para o jogo, é um exemplo
Com este principio, um bom n.º 6 deve pedir sempre a bola na saída de trás e assumir. Nesse contexto, tenho expectativa para, no Braga, ver crescer Al Musrati a nível de verticalização do jogo, nos passes verticais "queima-linhas". A lateralizar, metendo o passe nas alas, já vi no Rio Ave que o faz bem. É o tipo de pivô físico-circulador que admite um jogador ao lado.
É curioso, assim, ver o anterior pivô construtivo Tiago, agora treinador, montar o seu Vitória a partir dum só pivô, mas enquanto Pepelu sai a jogar, Mikel fica a equilibrar. A equação "n.º 6+n.º 8" pode dar Poha a gerir a saída desde o espaço de interior-direito. A liberdade só é mesmo... livre quando se sabe o que fazer em equipa.