CARA E COROA - Um artigo de opinião de Jorge Maia, diretor do jornal O JOGO
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Todos conhecemos a história do rapaz e do lobo. O rapaz, um perfeito imbecil, costumava achar graça a assustar os aldeões com gritos histéricos de que vinha aí um lobo. Os aldeões, assustados com a estridência do tolo, corriam a buscar as forquilhas e enxadas para afastar o malvado do lobo, apenas para perceberem que a terrível ameaça não existia, enquanto o idiota se ria da confusão armada. Esta história ancestral tem um final feliz, sobretudo para o lobo, mas infelizmente nem todas as histórias semelhantes acabam da mesma maneira. Há por cá quem passe a vida a gritar que vem aí a imigração com o ar mais assustado que consegue fingir. E, malogradamente, não faltam aldeões crédulos que vão a correr buscar as respetivas forquilhas e enxadas para enfrentarem a ameaça.
No caso, os aldeões são governantes e as forquilhas decretos-lei, como aquele que revogou os procedimentos de autorização de residência baseados em manifestações de interesse. Ao fundo, se se prestar atenção, consegue ouvir-se o riso manhoso do mentiroso que armou a confusão. Quem não se ri são as vítimas da mentira e dos patetas que acreditaram ou quiseram acreditar nela que, nisto das aldeias, convém não ir contra a maré. Tome-se como exemplo o que acabou de acontecer com a Liga Betclic. O campeonato de basquetebol masculino devia ter arrancado na sexta-feira, mas foi adiado porque os clubes simplesmente não conseguiram inscrever em tempo útil os jogadores estrangeiros, sobretudo os norte-americanos, que são mais de metade dos 60 extracomunitários a atuar em Portugal. Há aqui uma ironia difícil de ignorar. Quer dizer, quem anda aí aos gritos contra a imigração certamente não estava a pensar em impedir a entrada de norte-americanos. Nem lhes terá passado pela cabeça que a exigência de um registo criminal certificado pudesse ser um problema para os cidadãos da terra dos livres e casa dos bravos.